A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) admite que o uso do preservativo pode ser “mal menor” em certas situações. A posição da Igreja portuguesa surge depois do Papa Bento XVI ter dito, em África, que a utilização daquele contraceptivo “agrava” o problema da SIDA.

À chegada aos Camarões, onde inicia um périplo por vários países africanos, o pontífice defendeu que a solução para o problema da sida não passa pela distribuição de preservativos. Para Bento XVI, a “sua utilização, pelo contrário, agrava o problema”.

Apesar de não assumir uma postura tão radical, Manuel Morujão, secretário da CEP, apoia as declarações do sumo pontífice. “Não podemos considerar o preservativo como alguma coisa mágica, como uma panaceia que resolve tudo, mas deve-se insistir na formação, no uso correcto da liberdade nas relações sexuais”, comenta.

Ao JPN, o secretário da Conferência Episcopal Portuguesa diz ainda que “a SIDA não se vence com facilitismos” e não se pode “enganar as pessoas”.

Palavras geram contestação

De resto, as declarações de Bento XVI durante a sua visita a África originaram vários focos de contestação um pouco por todo mundo. Organizações como a ONU e a Médicos do Mundo já se manifestaram sobre as afirmações.

Em Portugal, as associações de apoio a doentes com SIDA já se fizeram ouvir. Ana Luísa Santos, assistente social da Abraço, revela ao JPN que “as declarações de Bento XVI foram um erro” e que “a sua posição deve mudar”. “É uma opinião completamente contrária à nossa, que incentivamos o preservativo”, acrescenta.

“O Papa devia cair no real”

O JPN foi tentar perceber as opiniões dos portugueses acerca deste tema. Dos mais novos aos mais velhos, todos se declaram contra o que disse Bento XVI.

Papa Bento XVI em Angola

O Papa Bento XVI inicia esta sexta-feira uma visita de três dias a Angola. Numa viagem inserida na sua primeira passagem desde que assumiu a liderança da Igreja Católica, o sumo pontífice será recebido em ambiente de festa e falará sobre as responsabilidades do mundo relativamente ao continente africano.

Na opinião de Amélia Sousa, “o Papa devia cair no real”. “Perante tanta desgraça o preservativo seria a única solução para agora”, acrescenta.

As declarações de Bento XVI não surpreendem Paulo Gouveia, estudante na Faculdade de Direito da Universidade do Porto. “Já devíamos estar habituados à hipocrisia da igreja quando se fala destas questões”, revela.

Para Cláudia Pinto, “o Papa devia estar mais informado antes de fazer as declarações”. Contudo, quando questionada acerca da abstinência sexual, acrescenta que “em certas ocasiões era o melhor que se podia fazer em África”.