A 24 de Março de 1999, aviões da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) bombardeiam a capital da Sérvia, Belgrado. A comunidade internacional tentava, assim, fazer face à alegada “limpeza étnica” levada a cabo pelos sérvios de Milosevic em relação à população albanesa a viver na província do Kosovo.

O conflito nos Balcãs arrastou-se por várias semanas até que, a 10 de Junho de 1999, o armistício foi assinado. No balanço das vítimas mortais, o número oscila entre o milhar e os três mil.

Jornalista do semanário “Expresso”, Luísa Meireles passou um mês na Albânia quando o conflito se desencadeou. A repórter considera que as forças paramilitares sérvias tiveram “um papel terrível em relação à população albanesa”, que se viu obrigada a refugiar-se na Macedónia e na Albânia. Os bombardeamentos “agravaram, ainda mais, a situação de uma população aterrorizada”, diz a jornalista.

“Os Balcãs foram um buraco negro no continente Europeu”, reflecte Luísa Meireles, ao lembrar o “longo processo” que precedeu a Guerra do Kosovo. “Era uma guerra que já estava a ser orquestrada”, com o fracasso das conversações diplomáticas entre a OTAN e Milosevic, conta a jornalista ao JPN.

Para o especialista em assuntos do Leste Europeu, Milan Rados, o impacto foi sentido “a nível humano, com mortes, e a nível material, com uma destruição terrível”. Já no plano internacional, o também docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto defende que “houve uma séria violação dos princípios políticos e do direito internacional, que até então não tinha acontecido”, bem como um não cumprimento de “todos os princípios da Carta das Nações Unidas”.

Milan Rados destaca, ainda, o facto de a Guerra do Kosovo ter sido usada para encobrir o polémico Caso Lewinsky, que afectou a popularidade do, então, presidente dos Estados Unidos da América, Bill Clinton. “Como é possível que o sistema democrático dos Estados Unidos e os outros países permitam uma coisa destas?”, questiona.

Já o presidente da Associação Portugal-Sérvia, Humberto Oliveira, salienta as cicatrizes que ainda hoje distinguem os sérvios, revelando “marcas muito profundas da agressão” da OTAN. “Dez anos depois, o Kosovo transformou-se no maior problema da Europa, da sua segurança e estabilidade”, declara ao JPN.