JPN: O futuro do Boavista no futebol profissional está seriamente em risco? Se não se puder inscrever na Liga, também não pode na FPF e os distritais poderão ser a realidade do clube na próxima temporada.

ABJ: Essa é uma possibilidade que tem que estar na mente das pessoas. Os clubes serão sempre aquilo que as suas massas associativas quiserem que seja ou que possam ser… Vamos ver. O campo das hipóteses é vago e essa realidade não é um dado adquirido. Continuamos a viver o dia-a-dia pensando no futuro e estamos a alavancar soluções para esse futuro.

Perante todas estas dificuldades, por que base passa o projecto desportivo do Boavista a médio-prazo?

Se o Boavista conseguir ultrapassar as suas dificuldades, acho que deve ter um enorme rigor, como já teve antes desta situação de sucessivos erros de gestão. Mais, o Boavista tem que ter noção da sua dimensão e tem, definitivamente, tal como a esmagadora maioria dos clubes do futebol português, que apostar nos escalões de formação.

Não contraria a ideia de que o plantel profissional do Boavista desta época foi sendo construído a retalho?

Diria mais: foi construído com base num treinador que partiu para a época a cinco dias do início do campeonato. Não é o ideal. E aí tenho que louvar a atitude do Rui Bento que, não tendo preparado a época, não tendo escolhido o plantel e conhecendo as dificuldades, deu também uma enorme prova de amor ao clube ao ter assumido a liderança de um barco para o qual não escolheu a madeira, não construiu o casco, nada!

Apesar de terem sido pagos, há poucas semanas, 2 meses de salários em atraso, ainda há meses sem pagamento. A situação está em vias de ser resolvida?

Não falo dessa situação publicamente. Nem quando está em dia, se não está, se está a ser resolvido… eu não comento. São coisas internas de uma família que não devem ser discutidas em público.

Pergunto-lhe de outra forma: denota uma relação entre a quebra motivacional da equipa e a queda de alguns lugares na Liga de Honra com os problemas financeiros do clube?

Admito que seja um motivo de preocupação para os jogadores. Nunca o escondemos: temos salários em atraso, não pretendemos esconder isso e assumimos os problemas. Mas não lhe falo de números nem de quantos meses em atraso porque isso fica, depois, ao livre arbítrio de cada um. Já vi coisas escritas na comunicação social que me arrepiaram, por desconhecimento das pessoas. Temos salários em atraso e os jogadores têm sido extraordinários pois sabem que fazemos um esforço enorme para tentar cumprir com as obrigações.

Caso o Boavista caia nos distritais, continuará à frente dos destinos do clube do Bessa?

Acredito que isso não vai acontecer. Se acontecer só serei presidente do Boavista enquanto tiver a confiança esmagadora dos associados, como tenho neste momento. E quando deixar de ter, compreenderei de forma tranquila que queiram outra pessoa à frente do Boavista.

«Apito Final»: “Não tenho dúvidas que o Tribunal Administrativo do Porto irá dar razão ao Boavista”

Passa quase um ano desde o desfecho do processo Apito Final. Ficou surpreendido pelo facto de a Comissão Disciplinar (CD) da Liga de Clubes não rever os processos do Boavista e do FC Porto por causa da suposta ilegalidade das escutas telefónicas?

Fiquei e acho que é aí que reside o grande descrédito do futebol português. Já fui punido 5 meses por declarações que proferi e fui atacado por dizer coisas que parecem dar-me a razão que tipifiquei antes de tempo. Era uma injustiça que se cometia ao Boavista e não tenho dúvidas que o Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto irá dar razão ao Boavista neste caso. Eu não discuti nunca situações do ponto de vista jurídico. Não sou jurista, portanto seria uma presunção da minha parte. Mas hoje acho que o bom senso da opinião pública já percebeu a injustiça que foi cometida para com o Boavista. E nem precisamos de ter o mesmo espaço que os outros clubes têm na comunicação social. As pessoas já perceberam. Daí eu acreditar que vai ser prestada justiça ao Boavista, que o Boavista vai ser indemnizado e só espero que o Tribunal Administrativo decida o nosso futuro em tempo útil para que sejamos recolocados de onde nunca deveríamos ter saído, a Primeira Liga.

Caso seja dada, de facto, razão ao Boavista em todo este caso, acredita que será mais um golpe numa Liga de Clubes já de si fragilizada nos últimos tempos?

O Boavista faz parte da Direcção da Liga de Clubes. No início desta época, equacionámos sair, mas o Conselho de Administração decidiu que nos mantivéssemos. Evidentemente que se a Liga continuar a ser penalizada, esta Comissão Executiva começa a ficar fragilizada. Naturalmente, o Sr. Presidente da Liga de Clubes é que terá que avaliar o contexto, mas quando o Boavista perder totalmente a confiança nesta Direcção só tem um caminho que é sair. E será uma coisa normal, sem dramatismos. Mas é indispensável termos um comportamento coerente durante tudo aquilo que fazemos na vida.

A Liga não teve esse comportamento para com o Boavista?

Não digo que não teve. Até porque a Comissão Executiva da Liga é independente de outros órgãos, como a Comissão Disciplinar.