As vozes políticas nem sempre chegam de foram plural ao serviço público de televisão. É esta a opinião dos quatro partidos com menor representatividade parlamentar. Membros do Partido Ecologista Os Verdes (PEV), do Bloco de Esquerda (BE), do Partido Comunista Português (PCP) e do CDS-PP reclamam, assim, um lugar mais activo na agenda mediática da RTP.

Na sequência da queixa do CDS contra a RTP pela ausência do partido no programa “Prós e Contras” de segunda-feira, o JPN ouviu a opinião de políticos dos quatro partidos.

De forma unânime, os quatro consideram que a obrigação de “tratamento equitativo e plural nos espaços informativos do serviço público de televisão” não tem sido cumprida no programa a que José Luís Ferreira, membro executivo do PEV, se refere, não comov”Prós e Contras”, mas como “Prós e Prós”.

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) já referenciou o programa como um exemplo em que o pluralismo não tem sido cumprido, o que leva o dirigente do CDS-PP, Paulo Mota Soares, a falar numa “constatação efectiva do incumprimento da regra do contraditório.”

“O pluralismo partidário implica dar voz a toda a gente e não dar voz a quem tem mais peso parlamentar”, acrescenta o deputado democrata-cristão, numa apreciação global da cobertura política feita pelo serviço público de televisão.

“O PS foi chamado 13 vezes ao ‘Prós e Contras’, o PSD nove, o BE quatro, o PCP uma e nós não fomos nenhuma”, lembra José Luís Ferreira, do PEV. O membro dos ecologistas admite que a cobertura noticiosa dada aos “Verdes” não seja a mesma dada a um partido com maior representatividade parlamentar, mas defende que “nada impõe um silêncio tão profundo”.

José Luís Ferreira fala mesmo em “deturpações”, nomeadamente quando a RTP omite a representatividade, por dois deputados, do seu partido na Assembleia da República.

RTP “silencia umas forças políticas”

Do lado do Bloco de Esquerda, João Teixeira Lopes declara que o partido “sabe que há pressões do Governo” na linha editorial da RTP e admite que “nem sempre a representatividade politica, em particular parlamentar, tem correspondência na cobertura noticiosa”. Ainda assim, o dirigente acredita que “há seriedade por partes dos jornalistas”, razão que leva o BE a conter-se nas críticas.

Críticas, e duras, faz o PCP, que também vai apresentar uma queixa formal à ERC contra a RTP por “silenciar uma forças políticas e promover outras”, nomeadamente no programa “Prós e Contras” sobre insegurança.

“Não é preciso ser nenhum especialista para reparar que o conjunto dos noticiários tem uma
presença e cobertura da agenda política que vai além do interesse público e traduz um empobrecimento do pluralismo democrático”, remata Vasco Ribeiro, da comissão política do PCP.

A ERC tem “uma mão cheia de queixas” dos vários partidos da oposição contra à prestação de serviço público da RTP e, por isso, salienta José Luís Ferreira, o organismo devia ter um poder “dispositivo” e não se “limitar a emitir pareceres”.

O JPN tentou contactar a RTP para obter mais esclarecimentos, mas não obteve qualquer resposta em tempo útil.