A publicação da lei que reconheceu os direitos linguísticos do mirandês foi o primeiro passo para uma série de iniciativas destinadas a reforçar a presença nacional da “lhéngua”. O mirandês passou a figurar entre as disciplinas opcionais nas escolas do ensino básico de Miranda do Douro, a Câmara Municipal passou a organizar anualmente um concurso literário e um festival da canção em mirandês, realizaram-se teses de doutoramento e publicaram-se livros em língua mirandesa, caso da banda desenhada “Asterix”.

Um dos aspectos que preocupou os investigadores foi a transposição do mirandês da oralidade para a escrita. “Um pouco depois da aprovação da língua o que fizemos foi colocar placas toponímicas nas ruas da aldeia. Nunca tinha sido feito em nenhum local e na altura foi muito polémico porque as pessoas achavam que aquilo estava tudo mal escrito, uma vez que conheciam o mirandês como uma língua oral”, explica José Meirinhos, membro do antigo Centro de Estudos Mirandeses da FLUP.

Da necessidade de expandir o mirandês à escrita começa também a ser utilizada a internet como plataforma de divulgação de conteúdos. Surge, assim, o hi5, o Photoblog, o WordPress e uma wikipédia em língua mirandesa. Actualmente e como afirma Amadeu Ferreira, presidente da Associação de Língua Mirandesa, “a internet é a principal ferramenta usada pelo mirandês e pelos mirandeses.”

O efeito que a modernização pode exercer na língua mirandesa está a dividir a opinião dos investigadores. António Bárbolo Alves, escritor de mirandês, considera que “todas as línguas estão ameaçadas pela modernização”. “Os dados geolinguísticos do planeta apontam para o desaparecimento de metade das línguas durante o século XXI. O número de falantes, que no caso do mirandês é reduzido é só um dos factores a ter em conta”, explica ao JPN.

Contrariamente, Amadeu Ferreira está optimista em relação ao futuro da “lhéngua”. “Eu acho que a modernização pode ser uma vantagem. A internet é uma ferramenta gratuita, que está ao alcance de qualquer um, que chega a todo o mundo, que permitiu o surgimento de dezenas de blogs em mirandês e por outro lado, acho que para além de aproveitar estas ferramentas, o mirandês pode beneficiar de uma ideia que hoje é querida à sociedade e que diz que a diversidade é uma riqueza”, esclarece.

Na opinião de Bruno Mendes, estudante da UP e natural de Mogadouro, “num mundo cada vez mais prático e objectivo, será mais difícil o ensino do mirandês. A não ser, diz o jovem ” pessoas que tenham raízes e antepassados mirandeses que possam motivar a aprendizagem e a manutenção de uma tradição, parece-me difícil que se interessem pelo seu estudo”.