O Teatro Art’Imagem teceu, esta terça-feira, duras críticas à actuação da Câmara Municipal do Porto (CMP) em todo o processo de apoio à edição deste ano do Festival Internacional de Teatro “Fazer a Festa”, que, excepcionalmente, se realizará na Quinta da Caverneira, na Maia, entre 25 de Abril e 3 de Maio.

Uma posição de força da direcção encabeçada por José Leitão, que ponderou “não realizar o festival numa primeira instância”. Recorde-se que o festival vinha sendo realizado, nos últimos anos, nos jardins do Palácio de Cristal.

Em conferência de imprensa na sede do próprio teatro – na Rua da Picaria, no Porto -, José Leitão, director da companhia, acusou a CMP de “incumprimento de uma palavra dada” ao Art’Imagem, no que toca aos apoios financeiros e logísticos ao festival que se realiza já desde 1981. A direcção resolveu, assim, deslocar a 28.ª edição do “Fazer a Festa” para a cidade da Maia.

Edição de 2006 leva CMP a tribunal

A edição nº. 25 do “Fazer a Festa” esteve envolta em polémica por aquilo que o Art’Imagem considera ter sido um “jogo político” da entidade presidida por Rui Rio. O “entendimento verbal” entre ambas as entidades (prática recorrente) previa um apoio camarário de 20 mil euros ao festival. Uma situação que não se verificou por causa de uma cláusula do protocolo Art’Imagem-CMP. Segundo o comunicado divulgado pela companhia, o documento obrigava à ausência de “críticas” que pudessem pôr “em causa o bom nome e a imagem do município do Porto, enquanto entidade co-financiadora do evento”. O teatro rejeitou ratificar a alínea, que considerava atentatória da “liberdade de expressão”, e, perante o recuo da CMP quanto ao apoio, decidiu interpor uma acção judicial contra o executivo. O julgamento que começa sexta-feira.

Com efeito, e segundo José Leitão, a CMP terá prometido à companhia que organiza o “Fazer a Festa” uma verba monetária na ordem dos 15 mil euros, quantia essa retirada a 25 de Março de 2009 pela empresa municipal Porto Lazer, devido a cortes orçamentais.

Ainda assim, a direcção do Art’magem relembra o diferendo judicial com a CMP – datado de 2006 e que tem a primeira sessão de julgamento marcada para sexta-feira, no Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto – como o contexto da retirada de apoios ao festival (ver historial em caixa).

Perante esta situação, a companhia considera, num comunicado distribuído aos jornalistas, “não estarem reunidas as condições de seriedade, boa-fé e integridade para assinar um acordo com um parceiro que mais uma vez falta à palavra dada”.

A posição do Teatro Art’Imagem, nas palavras de José Leitão, representa uma medida de “protesto” contra a atitude “pouco democrática” de uma câmara “eleita democraticamente”. O director vai mais longe ao considerar a atitude da autarquia como um acto de “pulhítica”.

“Está em causa o incumprimento de uma palavra dada pela Câmara do Porto e isto não se trata de política, mas sim de pulhítica. Os artistas e agentes culturais do Porto não deveriam ser tratados assim”, acusa o director da companhia, considerando ainda que o volte-face da CMP apenas vem demonstrar, “em ano de eleições”, que “o presidente [Rui Rio] é contra a cultura porque acha que as companhias de teatro são umas subsídio-dependentes”.

Art’Imagem “necessita ainda de 30 mil Euros” para pagar festival

O orçamento da 28ª edição do “Fazer a Festa” custa ao Art’Imagem “cerca de 80 mil euros”. O dado foi avançado por José Leitão, que adianta ainda que o apoio monetário do Ministério da Cultura (na ordem dos 50 mil euros) é insuficiente para fazer face às despesas de organização.

“Desta forma, teremos que arranjar os 30 mil euros que faltam, e, se necessário, recorrer a empréstimos”, confessa.

As dificuldades financeiras registadas na preparação do festival deste ano, assim como a mudança de local a poucos dias do início do mesmo, vão ter “consequências”. “Teremos que redimensionar os espectáculos para o espaço da Quinta da Caverneira, que será sempre menor do que o que tínhamos no Palácio de Cristal”.

Para além disso, a companhia teve de “renegociar” num “curto espaço de tempo, tudo o que dizia respeito ao festival”, o que causou “desistências” e, por isso, “forçosamente, o fluxo de público será diferente”, realça o director do Teatro Art’Imagem.

O cartaz definitivo do certame é divulgado quinta-feira, às 11h00, na própria Quinta da Caverneira, na Maia.