Foi a “Pensar o Porto” que arrancou a segunda fase do “Inner City”. O auditório da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto (FAUP) foi o palco das intervenções de diversas personalidades, tais como as dos candidatos autárquicos Elisa Ferreira e João Teixeira Lopes, que não pouparam nas críticas ao “estado da cidade”.

A socialista Elisa Ferreira versou sobre “Políticas Urbanas” e não escondeu o seu descontentamento com o estado do Porto. A professora de Economia defende que a cidade voltou a ser “um elemento fundamental na nossa vida” e que, por isso, a dinamização do Porto é “uma afirmação do próprio país”.

Programa

O programa do “Fórum Inner City” continua com a reflexão sobre a cidade do Porto no sábado, 18 de Abril, na Faculdade de Arquitectura da UP. Os autarcas Guilherme Pinto e Celso Ferreira e o deputado Renato Sampaio são alguns dos oradores participantes da discussão sobre Políticas Urbanas. O encerramento está a cargo de Pedro Bragança, o dinamizador da iniciativa do grupo “Lugares Efémeros”. O projecto continua entre 24 e 27 de Abril com a realização de workshops.

Elisa Ferreira considera que existem “vectores que podem juntar aspectos tradicionais e modernizados” de modo a trazer “valor acrescentado” para o Porto, criando uma “imagem que resolva a esquizofrenia de que a cidade padece”.

“É preciso criar comunidades de sentido”, apelou o candidato bloquista à presidência da Câmara Municipal do Porto (CMP), João Teixeira Lopes, ao salientar que a cultura “pode e deve” ser uma forma de “construir a cidade”.

O sociólogo assumiu uma posição crítica relativamente à desarticulação dos vários espaços da cidade, como as “várias faculdades da UP”. “O planeamento estratégico não é um masterplan“, apontou.

Porto é uma cidade “stressada”

Elisa Ferreira não está “contente com o estado stressado da cidade”. A socialista acredita que o Porto se encontra “fora do tempo porque o mundo se tornou mais exigente”. Torna-se, por isso, um espaço “pouco simpático e pouco acolhedor” para os jovens, devendo-se encontrar formas para relançar a cidade, que é, “neste momento”, um “somatório de guetos elitistas e de exclusão”.

Já o candidato bloquista critica a ausência de políticas culturais da cidade, com a “não existência de um Teatro Municipal”, entregue hoje a “um empresário”. “A autarquia destruiu a ligação da cidade com o Teatro”, afirma o sociólogo.

João Teixeira Lopes não esquece a polémica da Cinemateca Portuguesa e critica a posição do Ministro da Cultura, para quem o Porto “apenas merece um pólo de projecção” sem acervo. para quem o Porto. “A cultura é secundarizada na cidade do Porto”, acusa.

Artistas não são só capazes de “embelezar praças”

A abertura do debate coube a Joana Nascimento, da Faculdade de Belas Artes da UP. A artista plástica garante que os artistas “são capazes de fazer mais do que embelezar praças” e que, por isso, devem ser chamados a “reformular e participar” na cidade. Joana Nascimento apela, ainda, à necessidade de “reinventar o quotidiano do Porto”, realçando a importância de grupos como o “Lugares Efémeros”, compostos por pessoas interessadas no desenvolvimento urbano.

Também o presidente do Conselho Directivo da FAUP, Fernando Barata, distinguiu a importância das artes, nomeadamente da Arquitectura, no combate à exclusão das áreas periféricas. Para o professor, deve-se pensar em “área metropolitana no dia-a-dia” e fomentar as “relações com as cidades adjacentes”, especialmente com Vila Nova de Gaia.

O arquitecto explicou, ainda, que a problematização do Porto não deve ser feita através de comparações com cidades com milhões de habitantes. “Isso, para mim, é desconversar”, garante, já que a Invicta tem cerca de 240 mil habitantes.

É preciso “criar oportunidades”

A fundadora do Centro de Astrofísica da UP e membro da direcção da “Porto: 2001”, Teresa Lago, frisou a questão dos orçamentos para as políticas culturais, usando como exemplo o caso da Capital Europeia da Cultura.

A astrofísica defende que o importante é “criar oportunidades” de mudança, como a “Porto: 2001”, e, com isso, “pôr os arquitectos a pensar a cidade”, com infra-estruturas que valorizem a “perspectiva dos utilizadores”.

Teresa Lago lembrou a importância da reabilitação de estruturas como o “Teatro Carlos Alberto, o Centro Português de Fotografia, o Mosteiro de São Bento da Vitória e a Casa da Animação” e, ainda, a criação da Casa da Música durante a “Porto: 2001”, que “funcionou como um pretexto” para intervenções ambiciosas.