Desde 2005 que mais de 4600 produtores de leite abandonaram a actividade, por não cosneguirem suportar os custos de produção. Os problemas arrastam-se “há já cerca de ano e meio”, alerta José Oliveira, vice-presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), que acusa o Ministro da Agricultura, Jaime Silva, de “nunca ter assumido a crise do sector”.

Ao JPN, José Oliveira refere que só esta semana Jaime Silva reconheceu as dificuldades vividas pelos agricultores. Nesse sentido, o governo promeito um maior investimento para o sector do leite, anunciando torná-lo “Fileira Estratégica”. Medida que o CAP considera “insuficiente”. Por isso mesmo, sugere soluções como a criação de uma linha de desendividamento no mínimo de 10 anos”, já que “a linha de crédito existente só é válida por quatro anos e não é suficiente”, explica José Oliveira.

Preocupada com a situação de declínio dos produtores de leite está também a Associação de Jovens Agricultores do Distrito do Porto (AJADP). Carlos Neves, presidente da AJADP, considera a medida do Ministro da Agricultura “positiva, embora peque por tardia”. “Há quatro anos que a reclamamos”, refere o agricultor, recordando ainda as “dez propostas para vencer a crise do leite” que a AJADP lançou em Março.

O fim das cotas leiteiras é uma das principais razões que Carlos Neves aponta como responsáveis pela situação actual. “O governo não devia ter concordado pois o nosso país será um dos mais prejudicados com essa decisão”, reclama.

Em defesa do leite português

Uma das medidas de combate à crise no sector do leite propostas pela AJADP aponta para a consciencialização dos consumidores da escolha de marcas portuguesas. Para tal, os jovens agricultores estão a desenvolver a acção “mais PT” (mais português), que pretende que todas as embalagens de leite de origem portuguesa, incluindo as de marca branca, estejam identificadas e garantam ao consumidor que se trata de um produto português.

Por detrás das dificuldades dos produtores de leite estão ainda “a retracção do consumo a nível mundial e a actuação das grandes superfícies, que gostam de utilizar o leite como «produto isco» e procuram vendê-lo o mais barato possível. Isto pressiona a indústria que, por sua vez, pressiona os produtores, são os elos mais fracos da cadeia e restam-lhes poucas alternativas”, esclarece o presidente da AJADP.

Ambas as associações, unidas na luta pela reestruturação económica do sector de produção de leite, defendem mais investimentos e ajudas. Pede-se ainda uma maior fiscalização do mercado e de práticas de dumping, vigilância sanitária e económica do leite importado, entre outras.

Carlos Neves defende que “é importante que haja um trabalho dos produtores, indústria, organizações, governo e consumidores na preferência pelo leite português”. Este é um sector de produção que “em Portugal é auto-suficiente e que pode até ajudar a solucionar o problema do défice da balança comercial”, conclui.

Para já, a Confederação dos Agricultores de Portugal está a preparar um documento para enviar ao Ministério da Agricultura, com as medidas propostas para o combate à crise dos produtores de leite.