Foi no dia 21 de Abril de 1989, em Lisboa, que teve lugar a revolta policial dos “Secos e Molhados”. A acção é relembrada esta terça-feira, na mesma cidade, com um encontro que começa na Voz do Operário – local onde há vinte anos se reuniram os manifestantes – e segue, em marcha, até à Praça do Comércio, onde se viveram os confrontos.

A revolta:

A 21 de Abril de 1989, os polícias saíram à rua. Na voz, traziam várias exigências. Os agentes reivindicavam liberdade sindical, melhores salários e condições laborais e o direito a uma folga semanal. A manifestação viria a terminar em confrontos entre os manifestantes e a PSP, em plena Praça do Comércio. Seis agentes foram detidos

Para Paulo Rodrigues, actual presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, esta acção encerra em si uma grande simbologia para a classe. “O 21 de Abril de 1989 representa para os polícias o mesmo que o 25 de Abril de 1974 representa para os portugueses”, salienta o responsável, em declarações ao JPN.

Também Virgílio Nascimento, um dos seis polícias que foi preso durante os protestos, destaca ao JPN a importância da acção para o incentivo a uma “maior liberdade de expressão e o reconhecimento dos direitos, sem medo de represálias”.

A própria imagem do agente policial sofreu alterações graças à revolta. Como explica Paulo Rodrigues, “a PSP passou a ter uma imagem muito diferente na sociedade”. Se antes, salienta, o agente policial era associado a castigos e punições, a partir daí, a classe começou a ser vista com melhores olhos, com uma “maior dignidade”. “A sociedade tornou-se muito mais aberta à instituição, percebeu que podia confiar.”

Para além disso, a revolta foi importante “para a história do país”, sublinha Paulo Rodrigues, já que foi a primeira manifestação em que “estiveram polícias contra polícias” e em que “foram usados canhões de água em Portugal”.

20 anos depois, a história repete-se

O presidente da Associação Sindical afirma que, apesar das reivindicações do passado, o presente mantém algumas semelhanças.

“Somos uma polícia diferente, mas continua a haver falta de resultados. É verdade que hoje não há perseguição, mas continua a haver uma rigidez que, por vezes, não beneficia o serviço”, explica. Acrescenta ainda que apesar de hoje em dia haver uma maior abertura, é baseadas, apenas, num “um diálogo de ‘palmadinhas nas costas’, que representa um pouco a arrogância do passado”.

O responsável traça um retrato negativo das formas de procedimento do Governo, que estão assentes “numa base economicista”. Para Paulo Rodrigues, esta contenção de custos pode, a longo prazo, “originar danos irreparáveis”.

O presente da classe é, em geral, marcado por um sentimento de “desmotivação, pois as pessoas estão desiludidas com a instituição” e, por isso, hoje as reivindicações não são assim tão diferentes.

“Continua-se a reivindicar um horário de trabalho definido e remunerações mais adequadas à exigência dos serviços e responsabilidade”, conclui.