Sobrinho Teixeira, presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), está contra o projecto de portaria enviado pelo Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior que torna a Matemática obrigatória no acesso ao ensino superior em cursos onde, e segundo o documento assinado por Mariano Gago, a disciplina deveria ser “manifestamente” exigida.

Esta obrigatoriedade, diz o também professor do Instituto Politécnico de Bragança (PIB), vai afastar os alunos de Engenharia das faculdades. Uma opinião pessoal, frisa Sobrinho Teixeira, já que só na próxima semana é que o CCISP se reúne para tomar uma posição oficial.

Já o bastonário da Ordem dos Engenheiros, Fernando Santo, é a favor da portaria do Governo. Em declarações ao Diário de Notícias, Santo salienta que a obrigatoriedade da Matemática como prova de acesso significa “o fim do facilitismo”, congratulando-se pela medida que, diz, irá forçar ao encerramento dos cursos de Engenharia que não cumprem os critérios de formação da Ordem.

“Medida contraproducente”

Ao telefone com o JPN, Fernando Lobo Pereira, doutorado em Matemática Aplicada e membro da comissão científica do Programa Doutoral em Matemática Aplicada da Universidade do Porto (UP), concorda com o bastonário. “É evidente que a Matemática é importante, é uma linguagem de excelência para qualquer área quantitativa”, considera o professor da Faculdade de Engenharia da UP.

Apesar de admitir que há “anticorpos em relação à disciplina” e que a forma como a Matemática é leccionada “nem sempre é a melhor”, Lobo Pereira considera “fundamental” que esta seja obrigatória. O engenheiro descreve os argumentos do presidente do CCISP como “contraproducentes”, uma vez que a não inclusão da Matemática “só irá criar mais resistências à sua aprendizagem”. “É absurdo só de pensar, a lógica ultrapassa-me”, conclui.

Sete mil de fora

Em conversa com o JPN, Sobrinho Teixeira sublinhou que o CCISP ainda não tem posição oficial, nem é “garantido que vá tomar uma”. O professor considera, porém, que “Portugal está a cavar um fosso para a Europa” e apresenta números: “a nossa percentagem de população activa qualificada é 10,5%, na Europa é 25,5%”. “Esta geração tem a responsabilidade de qualificar a geração mais nova face aos desafios de uma Europa mais competitiva”, atira.

Sobrinho Teixeira considera que o futuro dos portugueses estará comprometido se “a política de qualificação” depender de “uma visão elitista e punitiva das provas de acesso”. O CCISP fez as contas e Sobrinho Teixeira avança com sete mil alunos prejudicados pela obrigatoriedade imposta pelo ministério.

Fernando Lobo Pereira deixa aberta a possibilidade da posição dos politécnicos estar relacionada com o medo de perder alunos. O presidente do CCISP refuta o que considera de uma “lógica mesquinha” e de um “debate de desconfianças”. “Pelo mesmo raciocínio, as universidades defendem a portaria do Governo para que haja menos alunos e o bolo do ministério seja dividido por menos”, diz Sobrinho Teixeira.

Há pouco mais de um mês, em visita ao Instituto Superior de Economia e Gestão, o Presidente da República, Cavaco Silva, considerou “imprescindível” o aumento das competências em Matemática. Segundo dados da Ordem dos Engenheiros, há 150 cursos em Portugal que não exigem Matemática.