“Contextualizar” é , segundo Ana Cristina Pereira, o elemento chave para se entender os jovens delinquentes. A jornalista do “Público” e autora de “Meninos de Ninguém” não pretende desculpabilizar os jovens que retrata nas estórias do seu livro, mas sim perceber que “ninguém é naturalmente bom, ninguém é naturalmente mau”.

Apresentado, esta quarta-feira, no Centro Educativo de Santo António, no Porto, “Meninos de Ninguém” é um livro onde a jornalista reúne dezoito estórias sobre jovens desprotegidos inseridos em meios problemáticos, o que acaba por resultar, em alguns casos, em delinquência. Uma das estórias é inédita e as restantes dezassete já foram publicadas no “Público” e encontram-se aprofundadas na obra editada pela Ulisseia.

De modo a entender o ambiente onde os jovens se inserem, “foi necessário dispor de algum tempo”, algo que Ana Cristina Pereira classifica como “escasso” nas redacções nacionais. “Um jornalismo que faz falta”, acrescentou David Pontes, director adjunto da agência Lusa.

As estórias partilhadas em “Meninos de Ninguém” são vividas no terreno e não a partir da secretária, pois como Ana Cristina Pereira acrescenta “não se faz reportagem recorrendo às ferramentas sociais associadas a uma certa ideia de jornalismo de futuro”.

Sucesso da reinserção dos jovens “tem vindo a aumentar”

Para Leonor Furtado, directora geral da Direcção-Geral de Reinserção Social (DGRS, essa aproximação resulta numa “oportunidade de partilhar o olhar dos serviços de inserção sobre o comportamento dos jovens delinquentes do nosso país”.

Leonor Furtado está ainda convencida que o sucesso dos programas de reinserção “tem vindo a aumentar. Temos cada vez mais a referência de jovens que passaram por nós e que efectivamente agarraram a oportunidade que lhes foi dada”, refere a responsável, exemplificando com os jovens envolvidos no caso Gisberta (transsexual assassinada, no Porto, em 2006): “Apenas um dos onze jovens que cumpriram medidas no nosso serviço voltou a reincidir”.

Segundo a responsável, o comportamento de uma pessoa é influenciado pelo ambiente em que se inserem. “Um jovem que não tenha apoio de pessoas que gostem dele, que o acarinhem e que lhe dêem valores, que não conhece outra forma de vida senão aquela, vai repetir esses padrões”, defende.

Ana Cristina Pereira termina o livro fazendo com a estória bem-sucedida de Rubén, um dos rapazes envolvidos no caso Gisberta, fazendo um contraponto com a primeira estória do livro tamém sobre um dos rapazes envolvidos nesse caso, como Ana Cristina Pereira diz “parece ter perdido a capacidade de sentir”. Em todo o caso o livro termina com a mensagem de que “há várias saídas possíveis”. A jornalista espera que estes “Meninos de Ninguém sejam os meninos de todos nós”.