O STFU Porto 2009, Festival de Música Electrónica/Experimental e Artes Visuais começa hoje, quinta-feira, na Fábrica do Som. A programação do festival engloba, para além de concertos ao vivo, uma sala ambiente, video art no bar, exposições de fotografia e sets de djing. O JPN foi até à Fábrica de Som, local que recebe o evento, conversar com dois dos organizadores do STFU Porto 2009.

JPN: Vocês fazem parte do STFU Music. O que é o colectivo?

Hélder Costa: É um colectivo internacional de várias pessoas que fazem música electrónica e que utilizam a internet para divulgar a sua música. Neste festival fazemos sempre um intercâmbio com esses músicos. Este ano vamos trazer dois músicos que fazem parte do STFU, um deles é o Mark, um dos artistas que começou o STFU na Escócia e vem também outro artista da Holanda que também faz parte do colectivo. Há pessoas que fazem programação, design, que escrevem press releases, fazemos um pouco de tudo. Nós como somos do Porto e queremos fazer todos os anos cá.

Mas o trabalho do colectivo não se resume ao Porto…

HC: Nós só organizamos no Porto, mas no primeiro ano houve em Torres Vedras e em Lisboa, mas não foi organizado por nós. O conceito é o mesmo, mas as organizações são independentes de cidade para cidade. Nós queremos que à medida que os anos passem que isto cresça, pelo menos em termos qualitativos, termos mais condições para os artistas.

É do colectivo internacional que vem a escolha dos artistas? Ou seja, é possível actuar no STFU sem ser do colectivo?

HC: Sim, é possível virem artistas de fora, aliás nós fazemos sempre isso. A artista que vem da Bélgica, a Filmjölk, não faz parte do colectivo, mas nós gostamos muito de uma edição que ela fez e que nos foi recomendada por um gajo que veio cá tocar no primeiro ano. Nós ouvimos e adorámos e achámos que era uma boa aposta para o festival. Entretanto, convidámos algumas pessoas do nosso fórum para vir tocar e também convidámos alguns nomes que não pertencem ao STFU mas que para nós fazem sentido simplesmente porque gostamos deles.

Nuno Rocha: Um dos objectivos, que ainda não está concretizado, é criar uma espécie de intercâmbio. Isso ainda não se faz muito mas quem organiza numa cidade para o ano a seguir trocar o cartaz e haver intercâmbio de artistas. É uma boa ideia haver um intercâmbio para fazer certos cartazes com artistas que não são fáceis de trazer até porque isto é uma coisa para pouca gente e não há fundos para isto. Vou eu aí e amanhã vens tu cá…

Considerando que este é um festival pequeno e para um público definido como é que se mede o sucesso do festival?

HC: A adesão nunca é grande (risos), nunca foi. Temos 30 ou 40 pessoas por noite. O espaço também é pequeno por isso 50 pessoas e o espaço está cheio. Não é pelo público que medimos o sucesso, mas claro que gostaríamos de ter mais gente. Gostava mesmo muito, tanto por mim como pelos artistas. Não é fácil tocar para pouco público. Uma das coisas mais importantes é o convívio entre os próprios artistas, na primeira edição e no ano passado, é mesmo das coisas mais importantes: o jantar e o convívio. Aproveitas para conhecer pessoas que só conheces da internet, tem uma atmosfera própria.

Sendo o STFU organizado por um colectivo tão digital, é de certa forma o paradigma de um novo tipo de festival mais direccionado, mais pequeno e eminentemente digital. Concorda?

NR: Não temos muito essa pretensão. Na Escócia, onde começou o STFU, vai mesmo muita gente. É um happening sobretudo na comunidade académica e para as pessoas que estão ligadas à musica electrónica e artes visuais.

O que dizem os convidados estrangeiros do STFU Porto e da cidade?

HC: Vou-te dar um exemplo. Ontem mandei um mail à miúda da Bélgica, a Filmjölk, e ela disse que estava mesmo muito agradecida por vir cá tocar e que está curiosa por vir porque na semana passada, por coincidência, um artista que veio ao STFU Porto do primeiro ano foi à Bélgica e os dois conheceram-se, ela disse-lhe que vinha cá e ele respondeu-lhe que ia adorar o Porto, que a cidade e as pessoas são altamente, que a comida é espectacular. Acho que responde à pergunta.

Há alguma diferença fundamental na estrutura ou conteúdo do festival dos anos anteriores para este ano?

HC: Este ano decidimos apostar mais em publicidade, mandámos fazer postais bonitos, eu fiz o desenho que sou designer e depois foram a imprimir na Bélgica que é mais barato. Pagámos do nosso bolso. Nós somos cinco e há sempre quem não queira gastar dinheiro nisto, mas eu propus apostarmos na imagem visual para credibilizar o festival e chamar mais atenção. Não é com fotocópias ou só na internet que lá vamos. A maioria destes festivais lá fora só tem publicidade na internet porque são direccionados apenas para gente da música electrónica e nós queremos alargar isso. Acho que os postais fazem isso.

Quem é o vosso público-alvo? Os músicos já sei que não são porque vocês não querem tocar uns para os outros.

HC: (Risos) Eu gosto muito de ir a concertos, quer de bandas conhecidas, quer de novos projectos. Mas há muitos músicos aqui no Porto que não vão a concertos e se calhar perdem muito porque uma pessoa quando vai a um concerto tem muito para aprender, não é só ouvir. É ver as coisas, ver como os outros as fazem. Eu gostava muito que viessem ao STFU Porto músicos de outras áreas para verem que não é música só para “maluquinhos”. As pessoas pensam que a música electrónica é só feita em computador e que é fria e distante, mas não é bem assim. Mas respondendo mais directamente: pessoal ligado às artes, talvez. Pessoas ligadas à fotografia, vídeo, animação, ilustração. Público universitário, também.

NR: Qualquer pessoa que goste de música e que tenha curiosidade em conhecer algo diferente. É por ciclos, não sei. Concertos ainda há, em Lisboa e cá no Porto, mas festivais de três dias não.

Em relação à polémica em torno da publicidade: vocês acham que não chega a quem devia? Como é que se processa a divulgação?

NR: Estamos cientes que a promoção pode ter falhado até certo ponto, mas este ano tentámos preencher a lacuna. O primeiro ano foi mais boca a boca e internet, no ano passado, pela recolha de flyers, se calhar não houve tanto interesse e este ano já foi completamente diferente. Já desapareceu quase tudo.

HC: Também porque o flyer era vistoso (risos). Este ano apostámos mesmo no flyer mais do que outra coisa. Nem temos cartazes, há sempre qualquer coisa que falha (risos). Nos começámos a deixar flyers em vários locais em que possa haver público interessado, bares e faculdades. Também faseámos a distribuição para não desaparecer logo tudo. Nas últimas duas semanas reforça-se porque se não as pessoas esquecem-se mesmo que queiram vir.

O STFU Porto 2010 está dependente de alguma coisa?

HC: Não, vai haver claro.

NR: No ano passado ficámos na dúvida, é por fases. Quando se acaba e as pessoas se despedem começamos logo a pensar na próxima vez e a fazer planos, mas há alturas em que pensamos nisso. Cada um tem a sua vida e o seu trabalho e isto custa. Há sempre quem deite abaixo e quem dê valor. Há alturas em que pensamos em desistir, acontece. Mas cada vez estamos com mais pica para continuar.

E no futuro: a fórmula é para manter? Onde é que há espaço para inovar?

HC: Cada vez apostar mais em publicidade. Não custa nada estar a tirar algum do bolso. O mais importante são os artistas, nós não ganhamos dinheiro com isto. Importante é mesmo ter público para eles artistas. Nós também somos músicos e ninguém gosta de tocar para meia dúzia de pessoas. Quanto mais gente vier, melhor para nós e melhor para os artistas. Apostar em fazer isto sempre em todos os anos também é importante.