Os segredos e estratégias de comunicação da campanha de Barack Obama rumo à presidência dos Estados Unidos da América (EUA) estiveram em discussão, esta segunda-feira à tarde, pela voz de Stephen Wayne, professor da Universidade de Georgetown e especialista em questões presidenciais.

O cientista político deu uma conferência nas instalações do curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Porto (UP). Sob o tema “O uso dos media por parte de Obama: da campanha até à presidência”, Wayne expôs aquilo que considera terem sido as apostas certeiras do actual presidente norte-americano para o sucesso da corrida à Casa Branca. Um caminho que “revolucionou as comunicações” a nível global.

“Ele (Barack Obama) revolucionou as comunicações nos EUA e no mundo, disponibilizando-as para as pessoas de forma mais rápida”, afirmou o especialista norte-americano, não deixando de referir a importância dessa aposta na divulgação dos seus ideais através da Web.

“Ajudou-o no campo político, despertando as pessoas para a vida política e para a importância do eleitorado mas, por outro lado, também abriu uma nova frente na actuação da própria classe política nos EUA. Agora, todos os políticos da Câmara de Representantes e do Congresso têm um e-mail e páginas pessoais na Internet para poderem trocar ideias com as pessoas.”

A mobilização que Obama encetou junto do eleitorado centrou-se, sobretudo, nessa aposta nos “novos media”, já que o número elevado de “blogues e páginas Web dedicadas à sua campanha” ajudaram, diz o especialista, a consolidar as ideias e a conduzir o actual líder norte-americano à Casa Branca.

Cem dias de Obama na Casa Branca

Stephen Wayne faz um balanço “positivo” dos primeiros cem dias de Barack Obama à frente dos destinos dos EUA. O especialista diz que o presidente norte-americano “compreendeu os problemas do país e do mundo, usou os seus poderes executivos para encerrar algumas das políticas de George W. Bush, mudando ainda o ambiente nos EUA e a visão da Casa Branca em matéria de política internacional”. “Dar-lhe-ia uma nota bastante positiva”, afirma Wayne, ressalvando, no entanto, que Obama cometeu “alguns erros, embora não tenham sido graves e sejam aceitáveis” porque estavam relacionados com “aspectos que ele não conhecia”.

“Durante a campanha, havia blogues que permitiam às pessoas subscrever alertas sobre tudo o que Obama fazia diariamente. E, ainda hoje, já na presidência, Obama responde, todos os dias, a cerca de dez cartas e e-mails enviados por pessoas, já que o site da Casa Branca permite aos utilizadores entrarem em contacto com o Presidente”, destaca.

Mais do que isso, sublinha Stephen Wayne, “Obama foi o candidato que mais fundos amealhou, tanto na campanha para as primárias, como depois de ter sido nomeado pelo Partido Democrático para a campanha rumo à Casa Branca.”

“Sem Internet, Hillary tinha vencido Obama”

Contudo, a ideia deixada por Stephen Wayne é a de que, num cenário hipotético de inexistência de Internet, “Obama não teria sequer passado das primárias”, pela intensidade com que a sua campanha apostou nas novas tecnologias.

“Creio que Hillary Clinton teria vencido logo na corrida às primárias, caso não houvesse Internet. Ela tinha mais apoios que Obama, mais fundos recolhidos logo no início da campanha, o que não se veio a verificar mais tarde”, concluiu o especialista na presidência norte-americana.