Algumas já estão casadas, quase todas estão “prometidas”. Têm entre 11 e 17 anos e tinham deixado de frequentar a esola, porque a cultura assim o exige. Mas no bairro do Olival, em Vila Nova de Gaia, estas meninas com responsabilidades de adultos, encontram uma nova oportunidade para aprender.

Este é o primeiro ano da “Escola no Bairro”, uma iniciativa conjunta de várias entidades gaienses que tem como objectivo combater o analfabetismo e absentismo escolar. A ideia foi possível graças à relação de confiança já existente com as famílias. O ambiente de cumplicidade entre as onze alunas e a equipa denuncia os quatro anos de trabalho junto da comunidade de etnia cigana residente no bairro.

Sandra Nogueira, educadora social, explica ao JPN que o segredo está em “ganhar a confiança dos mais velhos” para conseguir “a dos mais novos”, o que, de resto, possibilitou a autorização, por parte dos pais, maridos e sogros, para desenvolver a ideia.

“Foi-se divulgando a intenção de criar o projecto. Fomos pedindo a opinião deles…”, declara a psicóloga Joana Lopes, acrescentando que é “fundamental” respeitar a cultura e os valores da comunidade, tentando “nunca invadir ou impôr alguma ideia”. “A partir do momento em que respeitamos a cultura deles é mais fácil”, acrescenta a psicóloga da equipa.

Um projecto com futuro

“Escola no Bairro” é um projecto bem sucedido, contando com a participação de todas as raparigas da comunidade que já não iam à escola. Nestas aulas, que decorrem entre as 14 horas e as 17h30 de segunda à sexta, as jovens aprendem não só a ler e a escrever, como também as tarefas domésticas que fazem parte do quotidiano.

Até agora tem superado as nossas expectativas, as alunas têm sido bastante assíduas e não têm criado problemas”, salienta Andrea Machado, assistente social. A duração do projecto é de dois anos, não esperando as responsáveis que o período seja alargado pois, como refere Joana Lopes, “o objectivo não é continuar infinitamente com o projecto”, mas antes “cortar um ciclo de mentalidades, para que se perceba que a escola é algo normal, que não põe em questão a cultura deles”.

A iniciativa, que partiu da Gaianima, Gaia Social, Agrupamento Vertical das escolas do Olival e Associação de Socorros Mútuos da Associação Nossa Senhora da Esperança de Sandim, é pioneira a nível nacional. No entanto, a equipa considera que esta não é uma solução aplicável em todas as comunidades de etnia cigana, uma vez que é necessário perceber as características de cada comunidade.

“Resolvemos combater as necessidades desta população com este projecto.Não significa que da mesma forma combata as necessidades de outra população, ou que funcione”, refere Joana Lopes.