Apesar de grande parte da informação ainda ser confidencial, pensa-se que poderão existir entre 20 e 50 milhões de objectos artificiais à deriva no espaço. “Desde 1957, já foram catalogados mais de 50 mil peças em órbita de Terra, dos quais 20 mil já reentraram na atmosfera ou saíram da órbita; todos os restantes permanecem lá. Destes, só cerca de 3500 são satélites actualmente operacionais, tudo o resto é lixo”, explica Carlos Martins, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto.

Segundo o investigador, os números são “preocupantes”, uma vez que “apenas estão contabilizados os objectos com um tamanho igual ou superior a 10 centímetros”, como satélites, cápsulas de protecção, depósitos de combustível ou sistemas de propulsão e orientação. Por isso, “é certo que haverá centenas de milhares ou mesmo milhões de outros objectos artificiais mais pequenos em órbita”, explica.

O space junk viaja a onze metros por segundo, em altitudes que variam entre as centenas e os milhares de quilómetros. Com uma velocidade de impacto a rondar os 36.000 km/h, estes detritos podem, em caso de colisão, ser fatais para aparelhos que estejam a orbitar a Terra. resultando daí o aumento da “lixeira” espacial .

“A própria Estação Espacial Internacional já passou por vários alarmes em que precisou de mudar de órbita, com muito pouco tempo de aviso, para evitar a colisão com pequenos fragmentos”, conta Carlos Martins.

Perigo para a Terra

A verdade é que o problema pode ser mais complicado do que pode parecer. Muitas vezes, os detritos estas são maiores do que os próprios satélites, o que representa um risco agravado para o planeta, caso estas peças voltem a entrar na atmosfera.

Nelma Silva, do Núcleo de Divulgação do CAUP, lembra que “a probabilidade de colisão espacial entre grandes objectos é baixa”. No entanto, relembra a colisão entre dois satélites (um americano ainda operacional e um russo já abandonado) no passado mês de Fevereiro, que “levou à queda de detritos numa região da Sibéria”.

Normalmente, os satélites vão perdendo altitude à medida que orbitam a Terra e, quando “atingem uma altitude crítica acabam por reentrar na atmosfera desintegrando-se”. Mas, esta reentrada “pode levar centenas de ano, dependendo do tipo de órbita em que o satélite se encontra”, refere a responsável pela divulgação do CAUP.

A reentrada dos objectos na atmosfera terrestre pode ser controlada remotamente, a partir da Terra. Em muitos casos tenta-se que o satélite caia, por exemplo, no meio de um oceano. No entanto, Nelma Silva e Carlos Martins não têm dúvidas ao afirmar que “muitos satélites ficam no espaço e são, simplesmente, abandonados”.

Certo é que muito está por saber sobre o “manto” de lixo que envolve a Terra. Muita informação relacionada é ainda confidencial porque “nem tudo o que está no espaço foi lançado com objectivos puramente científicos ou de comunicação”, remata Nelma Silva ao JPN.