Numa época em que debate a capacidade de sobrevivência das empresas no contexto de crise actual, “o futuro da economia portuguesa está muito dependente das novas empresas que ainda estão para nascer”. Essa é a convicção do economista Daniel Bessa, para quem “a ultrapassagem da taxa de crescimento tão medíocre só vai ser possível com empresas que ainda não existem”, evidenciou o antigo ministro da Economia, uma das personalidades que passaram, esta sexta-feira, pela última sessão da II Semana de Promoção da Inovação e Empreendedorismo da UP (SpieUP’09).

Face ao actual cenário de crise, também Belmiro de Azevedo foi à Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP) apelar à renovação do sector empresarial português.

“A esperança de vida de um ser humano cresce. A esperança de vida de uma empresa decresce. Cada vez as empresas duram menos”, avisa, em jeito de metáfora, um dos homens mais ricos do país.

Perante uma audiência onde não faltaram jovens com ideias empreendedoras, o líder da Sonae deixou algumas dicas para um caminho de sucesso. “Um bom empresário deve trabalhar todas as suas potencialidades e deve saber exercer várias funções”, explicou, completando com nova metáfora: “Para ser um bom director geral eu tenho que ter sete ou oito funções porque, para chegar ao topo, tenho que ser capaz de tocar vários instrumentos”.

“Ser português é ser especial”

Ao longo de duas horas, os dois empresários partilharam ideias com a audiência, que também teve a oportunidade de ouvir Pinto dos Santos (Insead/MIT, EUA), Henrique Neto (Iberomoldes) e João Picoito (Nokia Siemens). Numa conversa onde não faltaram conselhos sobre “como sobreviver” no actual panorama de crise, Pinto dos Santos resumiu a cartilha a duas palavras: “Estudar e inovar. Para os estudantes o clima de crise é extraordinário porque é um clima que aceita as novas tentativas de criar”, aconselha.

Sector automóvel pode ser o único sobrevivente

Os oradores presentes na SpieUP 2009 acreditam que o sector automóvel pode ser o único capaz de “sair por cima” da crise. “É como num jogo de futebol, há 11 de cada lado, mas há um que é crucial, o que mete golos. Todos os sectores são importantes, mas o sector automóvel é imprescindível”, ilustra Henrique Neto. Também Daniel Bessa, que compara a crise actual com a de 1929, acredita na “sobrevivência” do sector automóvel, apesar de ironizar: “Nós gastámos o que não tínhamos a comprar o que não precisávamos. Seguramente que uma das coisas que comprámos mais e gastámos o que não tínhamos foi no automóvel”.

Não podendo estar presente, Pinto dos Santos gravou a sua intervenção em Massachusetts. Mas, mesmo distante, o empresário não deixou de elogiar os portugueses: “A qualidade de uma empresa mede-se pela capacidade de combinar coisas que os outros podem ter e coisas que só nós temos. e uma que nós temos é ser português, e ser português é ser especial e diferente”, declara.

O orgulho em ser português é também partilhado por João Picoito: “Temos todas as capacidades para crescer e para nos afirmarmos no mundo porque não somos inferiores a nenhum povo”, evidencia o empresário.

A sessão da última sexta-feira acabou por ser o ponto alto da SpieUP 2009 , uma iniciativa do Clube de Empreendedorismo da Universidade do Porto (CEdUP). Durante três dias (entre quarta e sexta-feira), o objectivo passou por “juntar toda a comunidade da UP, não só o clube de empreendedorismo, mas todos os que se interessam pela temática”, explica Tiago Espinhaço Gomes, um dos organizadores.

Entre sessões de networking, master classes ou “conferências com grandes nomes”, a equipa do SpieUP pretendeu levar “exemplos de sucesso” à FEP. “O importante é vermos exemplos de negócio de pessoas que não estão ligados à nossa área . Isso serve para abrir perspectivas e pensar um pouco mais além”, afirma Tiago Gomes ao JPN.

O evento terminou, este sábado, com uma sessão de Networking, no Plano B.