Organizações como a União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), Solidariedade Imigrante e SOS Racismo uniram-se a músicos, artistas e personalidades na assinatura de uma carta aberta contra as relação às políticas de imigração existentes em Portugal.

Lançada a 6 de Maio, a carta aberta tem como principal alvo a directiva de retorno – ou “directiva da vergonha” – aprovada em Agosto de 2008, que estabelece as condições de repatriação do imigrante ilegal. Em causa está a “contradição” de se exigir que os imigrantes possuam um emprego de forma a obter um visto, ao mesmo tempo que se impõe a existência desse mesmo documento para se poder trabalhar de forma legal no país. Outro dos aspectos mais criticados é a possibilidade de uma criança poder ficar detida entre seis a dezoito meses, apenas por ter tentado emigrar sem estar legalizada.

Medidas que, para os signatários da carta, agravam a dificuldades em integrar os imigrantes na sociedade. Chullage é descendente de pais imigrantes mas, como nasceu antes de 1981, teve direito a nacionalidade portuguesa, o que não impediu o músico de hip-hop de sentir dificuldades, nomeadamente no “acesso ao trabalho e na educação. Não há uma perspectiva de diversidade, por morar num bairro considerado problemático” diz o artista ao JPN.

Pedro Krupenski, director da Amnistia Internacional em Portugal, afirma ao JPN que “não há efectivamente um tratamento igualitário relativamente aos cidadãos portugueses nativos, daqueles que procuram vir viver para Portugal”. Pedro Krupenski dá o exemplo da comunicação social que tem “foca sempre o facto de uma pessoa ser imigrante”.

Chullage concorda, ao afirmar que o discurso público dos media intensifica os aspectos negativos em relacionados com os imigrantes. Segundo o músico, “o discurso dos media tem que mudar, para já deixar de criar mitos, como a relação entre a imigração e a criminalidade”.
Além disso, políticas de segurança levam a que “as pessoas em vez de entrar por uma via mais pacífica, acabem por ficar sujeitas a redes que são até perigosas para a sua vida, diz Chullage.

Alinhando pelo mesmo diapasão, Pedro Krupenski considera que as normas relacionadas com os imigrantes não deveriam estar tão relacionadas com problemas de segurança e sim com o “espírito humanitário de integração”. Isto porque “um imigrante bem integrado numa sociedade não só contribui para o desenvolvimento dessa sociedade como contribui para o desenvolvimento da sociedade do seu país de origem. Através dos fluxos de conhecimento, através dos fluxos de dinheiro”.

Imigrantes: Uma fonte de rendimento

Frei Francisco Sales, também signatário da carta aberta e representante da Obra Católica Portuguesa de Migrações, destaca a “importância” das remessas imigrantes para o desenvolvimento da economia portuguesa. “Normalmente, estão a fazer o trabalho que os portugueses não querem fazer. Além disso são também uma fonte de cultura e diversidade”, destaca.

Chullage recorda que imigrar “é um dos actos históricos mais antigos”, também praticado pelos portugueses o que faz com que seja uma “obrigação” para Portugal “acolher bem aqueles que chegam ao país”. “Devemos fazê-lo “tal como queremos que os outros países acolham aqueles que saem do nosso país para irem trabalhar lá fora”, diz Francisco Sales.

Num ano pautado por três actos eleitorais, Francisco Sales recorda a importância de “chamar a atenção dos governantes para a problemática dos imigrantes”. Um desafio que foi ouvido, este domingo, em Lisboa, pelos participantes numa jornada sobre os direitos dos imigrantes, com o lema: “Não à Europa da vergonha, com direitos iguais todos ganhamos”.