Todos os anos abrem mais vagas na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Contudo, os alunos queixam-se das poucas condições oferecidas pela instituição, que não consegue responder ao aumento de estudantes.

Os dados foram recentemente divulgados num estudo [em PDF] desenvolvido pela Associação de Estudantes da FMUP (AEFMUP), cujo objectivo era “perceber até que ponto esse aumento do número de alunos iria influenciar as formas de ensino dos mesmos”, explica Rui Reis, presidente da AEFMUP.

Foram distribuídos inquéritos com um total de 16 questões pelos alunos dos seis anos do curso. As oito últimas perguntas eram destinadas apenas aos estudantes dos dois últimos anos, o ciclo clínico. De um modo geral, para os futuros médicos, o número de alunos acaba por ser “excessivo” e torna-se “incompatível com o ensino da Medicina”.

Mesmo as infra-estruturas oferecidas pela faculdade não conseguem acompanhar o ritmo de evolução dos estudantes de medicina. “Há mais problemas em tentar aprender, menor acesso aos doentes, menor número de camas hospitalares para cada aluno e cada tutor tem um maior número de alunos, o que torna o ensino cada vez mais impessoal”, revela Rui Reis.

De acordo com o estudo, as dificuldades são sentidas de forma diferente entre alunos do ensino básico e alunos do ciclo clínico. “Apesar de existirem desvantagens e dificuldades nos anos básicos, já que os anfiteatros estavam sempre cheios, nos anos clínicos essas dificuldades são muito maiores”, evidencia o presidente da AEFMUP. Todos os obstáculos reflectem-se no atendimento aos utentes, uma vez que muitos dos estudantes inquiridos chegaram mesmo a presenciar algumas queixas por parte dos doentes.

Para Rui Reis, “os anos mais velhos manifestaram-se muito mais contra este aumento do número de alunos porque foram também os anos que conviveram com um menor número de alunos por ano e que foram vendo esse número progressivamente a aumentar”, justifica.

“A última palavra é do ministério”

Depois de reunirem os resultados, a AEFMUP tem feito esforços no sentido de fazer chegar os dados aos órgãos da faculdade. Contudo, “a última palavra é sempre do ministério”, como explica o representante da associação. Para Rui Reis, a ideia de que existem poucos médicos no país é totalmente falsa. O que acontece é que “há uma má distribuição dos médicos, tanto por especialidade como por região”.

Também a Associação Nacional de Estudantes de Medicina tem tentado comprovar estes resultados. “Basicamente estão a repetir este estudo, mas com outras pessoas, para ver também qual a necessidade de médicos em Portugal”, explica Rui Reis. O estudo já é comum noutras faculdades, onde se concluiu que “os alunos notam um decréscimo na qualidade do ensino. O próprio orçamento de estado para cada faculdade não corresponde ao aumento do número de alunos”, explica.

O estudo foi desenvolvido e promovido pela Associação de Estudantes da FMUP. No tratamento dos dados, a associação teve o auxílio do serviço de Epidemiologia da faculdade.