Ao longo de 2008, Portugal emitiu gases com efeito de estufa 5% acima do limite imposto pelo Protocolo de Quioto. Os números apontam, contudo, para uma forte descida das emissões comparativamente a 2007, ano em que o país ficou 11% acima do estabelecido.

As previsões foram anunciadas esta quarta-feira, pelo secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, na segunda edição do Fórum para as Alterações Climáticas. A crise económica vivida em Portugal, causa da redução do consumo de combustíveis fósseis, e as medidas que estão a ser implementadas pelo Governo, são apontados como alguns dos factores que estão na origem das diminuições observadas nos últimos anos.

Ana Rita Antunes, do Grupo de Energia e Alterações Climáticas da Quercus, realça o facto de se tratarem ainda de “dados provisórios”. Os dados oficiais só vão ser conhecidos em 2010, mas uma redução parece-nos uma visão optimista por parte do Secretário de Estado. Pode ser que seja possível”, assume a ambientalista.

“A partir do momento em que se consome menos gasolina e menos gasóleo, as emissões descem”, comenta Ana Rita Antunes sobre o impacto ambiental da crise. Por isso mesmo, a responsável da Quercus centra já as atenções no futuro. “Quando sairmos da crise não vamos sair das alterações climáticas. Temos que continuar a conseguir reduzir o consumo de combustíveis fósseis”, alerta.

O Governo acredita que em 2012, Portugal estará apenas “3% ou 3,5% acima do limite imposto”. Ana Rita Antunes partilha da opinião de que “daqui a quatro anos, estaremos acima dos níveis impostos pelo Protocolo de Quioto”, mas avisa: “Quanto mais o país ficar acima mais terá que reembolsar em dinheiro para cumprir Quioto”.

Já Nuno Quental, presidente do Campo Aberto, uma associação de defesa do Ambiente, culpabiliza o Governo pelos níveis excessivos de emissão de gases com efeito de estufa observados.

Para o ambientalista, “enquanto o país continuar, por um lado a ter um Ministério da Economia a querer diminuir a importação ambiental, e por outro, um Ministério do Ambiente que não faz nada e não tenta pôr em prática medidas nenhumas, vamos continuar a não cumprir o Protocolo de Quioto”, alerta.

Tecnologia ao serviço do ambiente

A previsão anunciada pelo Governo foi feita com base num novo sistema informático que vai ser apresentado no próximo dia 5 de Junho, Dia do Ambiente. A partir da nova tecnologia adoptada por Portugal, é possível conhecer as medidas tomadas por cada um dos sectores económicos para diminuir as emissões dos gases. Será ainda possíevl detectar desvios às propostas do Plano Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC)

Até ao momento, Portugal tinha apenas um inventário de emissões, mas nenhum programa ou dispositivo permitia prever o futuro ambiental. Ana Rita Antunes acredita que com o novo sistema (vai estar disponível no site www.cumprirquioto.pt.) “vai existir um maior controlo, não só da parte do Governo, porque será quase em tempo real, mas também da população civil e das organizações não-governamentais de ambiente, como é o caso da Quercus”.

Contudo, o sistema informático não é o suficiente porque “dá-nos uma visão de como é que estamos para alcançar as medidas, mas estas têm que ser cumpridas e o sistema não fará isso”, expõe a técnica da Quercus.