“A sociedade trata bem quem é bonito” é a conclusão a que chegou Cindy Jackson, recordista mundial com 47 cirurgias estéticas, que esteve no Porto em finais de Abril, para uma conferência sobre o tema. Para a norte-americana, “as pessoas com melhor imagem têm melhores oportunidades na vida. Sei que não é politicamente correcto, mas é a nossa natureza”, afirmou a autora, na sua passagem por Portugal.

Eduardo Rodrigues, sociólogo, acha as afirmações “radicais”, mas confessa que “o físico é cada vez mais importante nos modelos de afirmação das pessoas e de participação social”.

Para o investigador da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) “a sociedade cria um paradigma de beleza muito próximo dos estereótipos da juventude”, o que provoca um “desajustamento entre a idade social e os comportamentos atribuídos à idade biológica”.

Assim se explica a corrida às cirurgias estéticas, que têm, segundo Eduardo Rodrigues, uma “aceitação generalizada” dentro de uma sociedade que já não exige justificações. “Está deixada a explicação à vontade individual”, explica o sociólogo, que defende por isso a criação de estudos “para prevenir situações como a da modelo brasileira que morreu”.

“Cirurgia estética é um sinal exterior de riqueza”

Modelos com corpos “irrealistas” são exaltados “a torto e a direito pelos media e pela publicidade”, diz a psicóloga Ana Queiroz, para quem “o padrão de beleza imposto condiciona a aceitação de uma pessoa que seja ligeiramente diferente”.

Para a psicóloga, a sociedade “valoriza muito o aspecto”, que “parece dar um certo estatuto”. Fazer uma cirurgia estética “é um sinal exterior de riqueza, como ter um carro de marca ou fazer férias”, defende, lembrando que “o que está lá dentro é muito mais importante”.

Segundo os especialistas ouvidos pelo JPN, as cirurgias estéticas também não são a melhor maneira de resolver a insatisfação com o próprio corpo. “Fazer cirurgia é resolver um sintoma, não o problema da auto-estima”, diz Ana Queiroz, que defende que as cirurgias “nem deviam ser feitas sem primeiro se ver o que se passa a nível psicológico”.