“As crianças empobrecidas têm bom desempenho na escola, graças ao desejo de aprender”, sendo esta a “variável mais determinante do sucesso escolar”. Assim resume Stephen Heyneman, investigador norte-americano, algumas das conclusões do estudo apresentado, esta quinta-feira, na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação do Porto da Universidade do Porto (FPCEUP).

O investigador recolheu dados em várias escolas de inúmeros países (como o Uganda, Kuwait, Bangladesh, Índia, Libéria, Suécia, Japão, França, etc.) para perceber “por que as crianças empobrecidas têm bom desempenho na escola”. No final de mais de 40 anos de investigação (ver caixa), concluiu que nos países em desenvolvimento, a qualidade do ensino é o factor mais influente, enquanto que nas nações desenvolvidas, o contexto social dos alunos tem maior peso no aproveitamento.

“O meu trabalho foi andar seis anos a viajar pelo mundo para responder às mais interessantes questões sobre resultados escolares, o que eu teria feito de graça”, confessou Heyneman.

Estudo com mais de 40 anos

O estudo de Stephen Heyneman teve início no Uganda, em 1966. Na época, O sociólogo não encontrava uma correlação entre o ambiente sócio-económico dos 3000 alunos do país que analisou e o desempenho na escola. Com o desenvolvimento da investigação noutros países, concluiu que existia uma proporção inversa entre o factor “qualidade da escola” e “ambiente social e familiar” nos países em desenvolvimento e desenvolvidos.

No entanto, o investigador ressalva que embora as crianças de países em desenvolvimento tenham uma boa performance, não quer dizer que, quando sujeitas a testes internacionais, (ver caixa) tenham os mesmos resultados. “A questão deste estudo é diferente. É sobre o que influencia a aprendizagem, é sobre o contexto familiar versus qualidade da escola. Nos países mais pobres a influência predominante é a qualidade da escola e nos países desenvolvidos é o contexto social”.

“Como se promove então, o desejo de aprendizagem nas crianças que não o têm?” Para Heyneman, “esta é a questão fulcral. É o negócio da educação e é uma pergunta que eu também coloco”.

Outra das questões levantadas na FPCEUP foi o desemprego. Face ao crescente número de licenciados desempregados, o investigador deixa uma resposta de esperança: “Tenho a vantagem de ter estudado Economia e Sociologia e posso dizer que, em média, quem tem mais estudos ganha mais e tem empregos melhores”.