À entrada, os 20 cartazes propunham uma “linguagem visual”. Na sala Palco, imperava a “linguagem punk-rock”, em paradoxo com a “linguagem electrónica” que agitava o público na sala Cubo. Três espaços, três linguagens diferentes, unidas pelo propósito de retratar “uma certa cultura underground do circuito independente do Porto e do Norte”.

O Plano B lançou a proposta e o público respondeu em massa. Mais de 500 pessoas marcaram presença no “20 dj’s, 20 bandas, 20 cartazes”, a festa em “regime fast-food”, realizada esta quarta-feira, que trouxe mais de cem artistas, entre músicos e designers, ao bar da Rua Cândido dos Reis.

Joaquim Durães, responsável pela Lovers & Lollypops, a promotora do evento, não tem dúvidas quanto ao nível de entendimento entre os participantes da noite: “Quando são 111 pessoas envolvidas, a comunicação consegue ser muito melhor. O resultado está à vista, que é ninguém recusou o convite. O público está a gostar.”

Os 20 cartazes

Dos 20 cartazes “havia uns muito bons e outros muito fracos”, afirma Maria Reis, enumerando os preferidos: “Um dos mais interessantes foi o da Kong Studio, outro do Rafael Oliveira que também foi muito bom e o do Júlio Dolbeth.” São “todos bons trabalhos”, salientam os italianos Matteo e Giuglio, estudantes de arte, que se deslocaram ao Plano B por “curiosidade”.

Nos dois minutos que, no meio do rebuliço de noite de casa cheia, consegue dispensar para estar à conversa com o JPN, Durães não contém, no entanto, o desabafo: “A nível de logística é bastante complicado e stressante.”

Os Throes foram uma das bandas a actuar na maratona de concertos – apenas dez minutos para cada uma das 20 bandas – uma jornada que, para o guitarrista Marco Castro, foi uma “forma de celebrar” as “várias tendências que hoje existem no mundo da música”.

“Hoje em dia, cada vez mais são dados espaços e projectos em diversos géneros da música, quer seja punk, rock, alternativo”, enfatiza.

Também o guitarrista Bruno Costa, dos ALTO!, afirma que “hoje em dia há mais união e iniciativas”, até porque “as casas estão disponíveis e aceitam a cultura musical”. Ao contrário do que se passava “há cerca de dez anos”, quando, para “dar um concerto”, as bandas “batiam em vinte portas”. “Era muito difícil sermos aceites”, lamenta. o também guitarrista dos Green Machine.

“O Porto tem sempre bom ambiente”

Para “ouvir boa música” e por pura “diversão”, Marlene Forte e Artur Silva não quiseram deixar de marcar presença no evento. Até porque, “o Porto tem sempre bom ambiente!”, exclama a primeira.

“Todos os eventos do Plano B são sempre bem organizados, bem estruturados, acho que é uma noite interessante”, realça Maria Freitas. “Venho por causa de uma ou duas bandas e estão aqui vinte, é muito bom para divulgação”, acrescenta.

O dj João Teixeira, que começou a carreira a passar música em festas de amigos “e hoje exerce a actividade no âmbito profissional”, partilha da mesma opinião: “O cenário favorece os novos talentos. Para dj’s emergentes, às vezes é difícil conseguir sítios para tocar.”

A diversidade é também para o dj um dos pontos fortes deste tipo de eventos, já que “dá para condensar numa noite uma mostra de muitos estilos e aprender muitas coisas diferentes”. “Essa troca é o mais importante.”

Uma ideia subscrita por Francisco Corte Real: “A diversidade é o ponto forte, obviamente.” “Desde que uma pessoa tenha mentalidade aberta e consiga ouvir coisas diferentes, presenciar obras de arte diferentes, não se cingir a um único estilo, a um único modelo, a uma única corrente, é sempre importante existirem este tipo de eventos.”

Nas palavras de Cristiano Veloso, baterista dos Aspen e dos The Glockenwise, estas iniciativas são “uma maneira de espalhar cultura de uma forma leve e interessante” e também permitem o “encontro” de diversos estilos artísticos, que nem sempre têm visibilidade.

“São quase todas bandas de garagem e estão aqui por amor à camisola”, comenta o baixista Tiago Silva, da banda ALTO!. “O mais importante da nossa geração é que as pessoas vão para aquilo que gostam e vivem aquilo que gostam.”

Quanto a eventos semelhantes, Joaquim Durães não levanta muito o véu: “Poderão surgir, mas não para já.”