Desde 2004, morreram em Portugal mais de nove mil pessoas com problemas de obesidade.
Actualmente, mais de duas mil estão à espera de uma cirurgia, enquanto que outros milhares aguardam, há dois anos, por uma consulta no Serviço Nacional de Saúde.

“Deve-se à falta de investimento do Ministério da Saúde. Pura e simplesmente não têm investimento directo para o tratamento da obesidade”, alerta Carlos Oliveira, presidente da Associação de Obesos e Ex-Obesos de Portugal (ADEXO).

Em Dia Nacional de Luta Contra a Obesidade, Carlos Oliveira conta ao JPN que não existem “razões para celebrar”. “Com mortes nas nossas listas de espera e nos nossos associados, temos razões para fazer luto. E, por isso, será um dia de luto pela obesidade.”

A ADEXO responsabiliza o Governo pelo facto de a obesidade continuar a ser desvalorizada, já que os programas de tratamento de obesidade não “estão a ser implementados”. “Os centros de tratamento que deveriam estar a trabalhar desde o dia 1 de Janeiro ainda não estão e agora disseram-nos que talvez em Setembro possam colocá-los em funcionamento”, esclarece Carlos Oliveira.

Uma das soluções apontadas pelo presidente da ADEXO para contornar esta situação passa por “pôr em funcionamento os programas que estão feitos”, algo que poderia “mudar todo este panorama”.

Prevenção deve começar na infância

Num país onde a obesidade atinge uma parcela significativa da população, as crianças e os jovens são também alvos fáceis desta doença.

Graciete Bragança, pediatra do Hospital Amadora-Sintra, desenvolveu um estudo sobre obesidade infantil. Ao olhar para trás, a especialista salienta que há mais crianças obesas do que “há dez anos” e, para além disso, já sofrem de “grandes complicações” como “hipertensão, hipercolesterolemia e outras doenças cardiovasculares”.

“Achava-se que [a obesidade infantil] passava, as pessoas não ligavam muito. Mas hoje já se provou que, mesmo em idades pediátricas, traz complicações e o risco de uma criança obesa vir a ser um adulto obeso com muitos problemas é muito grande”, alerta a pediatra.

“Implementar na criança desde muito pequena as atitudes saudáveis” é, para Graciete Bragança, um dos passos que devem ser tomados.

A Organização Mundial de Saúde encara a obesidade como a “epidemia do século XXI”. Epidemia esta que, de acordo com o estudo mais recente, atinge cerca de 15% da população portuguesa.