Um artigo publicado na revista “Annals of Oncology” relata o caso de um homem que ficou retido num posto de imigração fronteiriça nos Estados Unidos da América devido à ausência de impressões digitais.

Uma possível consequência do tratamento com capecitabine, um “medicamento utilizado no tratamento do cancro da cabeça, do pescoço e até do cancro mamário”, principalmente em estado avançado, esclarece Jorge Polónia, do Instituto de Farmacologia e Terapêutica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). Um fenómeno que, de acordo com o especialista, não compromete a utilização do medicamento.

“Sabe-se que ele [o medicamento] é capaz de produzir uma doença que desenvolve um quadro inflamatório que atinge a pele da planta dos pés e da palma das mãos que dá origem a lesões do tipo inflamatório, com descamação, com formação de bolhas e que tem em alguns doentes a capacidade de fazer desaparecer as impressões digitais”, explica o professor.

De acordo com Jorge Polónia, “este quadro foi já descrito em 2007 em doentes que tomavam esse medicamento.” “Julgo que é uma reacção inflamatória que só surge com o uso relativamente prolongado”, acrescenta. O professor da FMUP não tem conhecimento de nenhum caso semelhante em Portugal e afirma que o sucedido “não vai, de forma nenhuma, impedir a utilização do medicamento [até] porque os efeitos terapêuticos permanecem”.

“Pessoas que viajem de avião devem ter uma carta do médico a explicar que o doente está a fazer aquele tipo de medicação e que pode, eventualmente, ter este tipo de consequências. Mas isto não é um efeito adverso que comprometa a vida do doente”, garante Jorge Polónia.