O artesanato exige esforço e dedicação, mas não só. Os materiais têm de ser atractivos, o que por vezes inflaciona o preço. Em linhas gerais, Cláudia Andrade, psicóloga de formação, vai traçando o retrato da actividade que decidiu adoptar quando, de volta a Portugal, não conseguiu arranjar trabalho na sua área.

“Trabalhei durante algum tempo, inclusivamente fora de Portugal. Quando regressei, achei que ia ser muito fácil arranjar emprego e não foi”, conta. Foi a partir daí que decidiu dedicar-se “à formação”, uma actividade incerta que, por isso, não exerce a “tempo inteiro”. O artesanato surge, então, como um meio de dar “alguma estabilidade” económica.

Uma opção que, de acordo com o presidente da Federação Portuguesa de Artes e Ofícios, Miguel Oliveira, é cada vez mais comum. “Um grande número de pessoas, em altura de crise como a actual, optam por este tipo de actividade como alternativa a dificuldades que têm, como a falta de emprego”.

Também Helena Ramos optou pelo artesanato como uma nova saída profissional. “Fazia como um hobby“, mas, na verdade, garante-lhe “algum lucro”. “Ajuda sempre nesta altura de crise”, diz. Se antes Helena pensava que o artesanato iria cair “em desuso”, hoje a sua visão é bem diferente. “Tenho-me apercebido que há cada vez mais pessoas a fazer artesanato, revistas de artesanato e pessoas que também o procuram”, nota a artífice.

Cláudia Andrade concorda e diz que o artesanato está “na moda”. A artesã realça o aparecimento de “muitas lojas” que vendem produtos de artesanato e até de blogues ou sites. Se repara num aumento das lojas, atenta, também, que tal como no seu caso, “as pessoas estão mais despertas” para a arte enquanto “fonte de rendimento extra”.

Hobby, libertação ou escape

Uma forma “útil” de ocupar o tempo, de “libertação” ou um “escape” – o artesanato pode ser tudo isto, diz Cláudia Andrade. Para Acilda Oliveira é, acima de tudo, um passatempo, apesar de já comercializar algumas peças. “Vendo alguma coisa, mas é mais por hobby, garante, até porque não tem “disponibilidade” para participar em feiras ou em eventos de artesanato.

Mas também na prática artesanal existem obstáculos a ser ultrapassados. Para começar, o preço elevado dos materiais. “E se nós comprarmos materiais mais caros, somos obrigados a vender mais caro, o que também é capaz de fazer com que as pessoas não comprem”, lamenta Acilda.

Já Cláudia Andrade faz um esforço por comprar o mínimo de materiais possível. “Alguns são comprados em lojas, mas a maior parte tenso ser eu a fazer e, o que não faço, tento que seja o mais original possível”.

A maior dificuldade é, no entanto, ver partir algumas peças, admite a artesã. “Custou-me muito vender as primeiras peças que fiz porque foram feitas por mim.”