São “cantores, amadores, trovadores”, “artistas inspirados e valentes” que não cantam “só para se mostrar à gente”. São pescadores, advogados, engenheiros, os que, nas horas livres, entregam a voz ao fado. “Os tais vadios!”, diz a canção inspirada nos fadistas destas tascas e bares rústicos. (Ver Caixa)

Mas, embora o termo “fado vadio” seja o mais utilizado para classificar estas actuações vespertinas ou nocturnas, há quem prefira chamar-lhe “a escola do fado” ou o “fado amador”.

A partir das 16h00 há fado

Os locais visitados que fazem parte do roteiro das tardes de fado vadio no Porto são a casa Fado Menor, à segunda-feira, e a adega Beira Rio, onde também se canta o fado às sextas-feiras.

Para Lúcio Antunes, apresentador há quatro anos do Fado Menor, local onde nos encontramos, e fadista há “20 e poucos”, é “mais ético chamar-lhe a escola do fado” pois “todas as vozes sonantes do fado passaram por estas casas, pelo fado amador”.

“O fado para mim não é vadio, é fado amador”, replica Júlio Soares, também fadista “residente” da casa. “Isto porque há maior camaradagem, melhor coração, melhores sentimentos.”

“Vou cantar o fado até que a voz me doa”

“Vou cantar o fado até que a voz me doa, como dizia a outra…”, confessa Lúcio Antunes, referindo-se a Maria da Fé, fadista a celebrar 50 anos de carreira. Quanto a apresentar as sessões de fado todas as segundas-feiras, Lúcio mostra-se emocionado e orgulhoso.

Nas apresentações deixa-se levar pela espontaneidade e, quando lhe perguntamos se consegue encher a casa, Lúcio Antunes dá, prontamente, provas da sua competência: “Consigo“.

“É um espírito de alma, exactamente um espírito de alma”

“Enquanto o fado profissional é a ganhar, nós amadores, ainda pagamos para cantar”, salienta Júlio Soares. “Cantamos porque gostarmos. Isto é um bicho, que vai nas pessoas – dizem que não, mas acaba por aparecer nas pessoas que cantam fado”, afiança Júlio Soares.

Rosa Pereira tinha oito anos quando “sentiu o bichinho”, mas só começou a cantar aos 18 pois “os antigos diziam que quem cantava o fado iria ter uma má fama“. Só canta aquilo que sente. Não sabe explicar por que razão o fado ocupa tamanho lugar na sua vida. Simplesmente, adora fado.

As casas de fado dão oportunidade a quem quer cantar. São essenciais para se “fazer aquilo de que se gosta”, defende Rosa, sem deixar de lamentar que não existam verdadeiras “casas de fado” e apenas “estas tasquinhas”. Ainda assim, diz, “vale a pena”.

“Não é só em Lisboa que tem que haver fadistas, também tem que haver aqui no Porto”, sustenta a fadista amadora, depois da actuação na adega Beira Rio.

“Todos os fadistas são pessoas humildes”

Quando se fala de fadistas profissionais, Maria Augusta Melo, frequentadora assídua das casas de fado, revela que já tem ido assistir a espectáculos de nomes conhecidos, mas não lhes dá “muito apreço”. Até porque é a “humildade” que faz a diferença.

Maria Augusta confessa que vai a “quase todas as casas de fado vadio”. Hoje, segunda-feira, optou pela Fado Menor. “Sou louca pela casa de fados”, confessa, entusiasmada. Há um pequeno silêncio na explicação desta vontade, que, invariavelmente, arrebata os frequentadores desta “escola de fado”, quando verbalizam este sentimento de ir, ouvir, cantar e voltar.