“Casa onde nasceu aos 4 de Fevereiro de 1797 João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett – Mandou gravar à memória do grande poeta a Câmara Municipal desta cidade em 1864”, evoca a placa colocada no n.º 37 da Rua Barbosa de Castro, na freguesia da Vitória, no Porto.

O prédio setecentista, berço do escritor de “Folhas Caídas”, está hoje praticamente deixado ao abandono. O rés-do-chão do edifício encontra-se actualmente ocupado por uma mercearia; no primeiro piso, habita uma senhora que se recusa a falar aos jornalistas.

A proprietária da mercearia, a senhora Lola, como gosta de ser chamada, conta que, se não fosse a vizinha, que mora um andar abaixo da antiga casa de Almeida Garrett (2.º piso), “aquilo já tinha ido ao ar”. “Ela é que vai lá todos os dias tirar a água que se acumula dentro da casa!”

“Há uns anos, a Câmara esteve interessada em comprar isto. Fez-nos uma proposta e tudo, mas depois desistiu”, relata. Em 2007, o edifício foi adquirido pela imobiliária Real Douro que desenvolveu um projecto para transformar a casa num hotel de charme.

“Fizeram-nos uma proposta, estava tudo decidido, só faltava assinar os papéis. Íamos sair daqui com algum dinheiro. Mas parece que a câmara não aprovou o projecto e está tudo parado há mais de um ano”, descreve Lola.

Estraga-se porque “não se podem tomar decisões”

Lúcia Rosas, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e especialista em Gestão do Património, refere a casa de Almeida Garrett como um dos exemplos em que “a excessiva patrimonialização” levou à destruição do edifício. ” É muito mais fácil de estragar porque não se podem tomar decisões: a imobiliária não diz o que quer fazer, a câmara não diz o que quer e as coisas vão caindo…”, sintetiza.

“Uma das condições até seria o hotel encontrar um estilo neo-romântico. É a melhor homenagem que se pode fazer a um escritor como Almeida Garrett”, sustenta Lúcia Rosas ao falar na importância de “unir património e funcionalidade”.

Em declarações breves ao JPN, o vereador do urbanismo da Câmara Municipal do Porto, Lino Ferreira, diz não se recordar do caso em particular, mas defende que “o projecto tem de obedecer ao Plano Director Municipal, caso contrário tem de ser modificado”. O JPN tentou estabelecer um contacto mais profundo com a autarquia, assim como tentou contactar a imobiliária “Real Douro”, mas não obteve qualquer resposta em tempo útil.