Susana Rodrigues tem 24 anos e foi adoptada aos quatro. Sempre teve noção de que tinha chegado à família dos seus pais por via da adopção apesar de, no início, não o “conceptualizar de uma forma tão simples”.

A história de Susana encontra, certamente, semelhanças com as das muitas crianças que são adoptadas todos os anos em Portugal. Segundo dados oficiais, mais de duas mil crianças estão em condições legais para serem adoptadas.

O processo de descoberta “foi também um processo de busca interior”, confessa a jovem. “Intenso, perturbador, mas muito enriquecedor e que dita a pessoa que gosto de ser hoje.”

Para Susana Rodrigues, o facto de ser adoptada “não é indicativo de nenhum comportamento”. “Estas crianças não são adoptadas para a vida. São adoptadas num momento, filhas para uma vida inteira”, afirma Susana, que, à excepção do irmão, nunca teve qualquer contacto com a família biológica.

O desejo de conhecer a família de sangue centrou-se apenas nos irmãos porque, diz, “se sentia simultaneamente responsável e culpada pelo que não lhes acontecera” e vivia com um “sentimento de impotência”.

Adoptar uma criança é, para Susana Rodrigues, um passo provável. “Uma das lições mais importantes da minha vida é que, quando falamos de uma família, falamos de laços de amor e não de consanguinidade”, adianta a jovem. Até porque “a adopção está no mesmo patamar de uma gravidez biológica”. “Eu só quero ser mãe”, conclui.

“Não é fácil adoptar em Portugal”

Segundo os dados oficiais, em Abril 2.154 crianças estavam em situação de adoptabilidade, a maioria delas com idades compreendidas entre os zero e os dez anos. Deste total, 811 já têm adopção decretada, 626 estão em fase de pré-adopção, 554 aguardam proposta de candidato, 101 estão em vias de integração no seio familiar e 34 estão com alteração do projecto de vida, sendo assim 600 as crianças por adoptar.

Cristina Henriques, presidente da Associação de Apoio à Adopção de Crianças “Bem me Queres”, destaca a situação das “cerca de trezentas que têm necessidades especiais ou deficiências graves”. “Não é fácil, à partida, o candidato à adopção estar disponível a aceitar crianças com deficiências. Nenhum de nós, nenhuma mãe, aceita com facilidade quando um médico lhe diz que a criança que vai ter tem deficiência”, afirma.

A responsável critica ainda o facto de, em Portugal, “ainda se esperar muito tempo para adoptar”. Tempo que pode variar conforme os candidatos e a criança pretendida: “Hoje em dia procuram-se os candidatos que têm as características que melhor se adequam às características da criança. Nesse sentido, há candidatos que terão maior facilidade do que outros”, esclarece Cristina Henriques.

Candidatos a adopção

“Maria” e o seu marido decidiram, há cinco anos, adoptar uma criança. Os requisitos eram os normais: “uma criança até aos cinco anos, caucasiana e sem doenças impeditivas da sua independência”, relembra “Maria” ao JPN.

Os papéis foram entregues a 7 de Janeiro de 2009 e a primeira entrevista foi marcada para 11 de Maio. Um processo “um pouco mais lento” do que “Maria” esperava. A candidata sente que os portugueses têm ainda “tabus em pensar neste assunto”.

Já Susana Rodrigues é da opinião que “os portugueses estão desinformados sobre o que é a adopção e esta realidade não mudou muito nos últimos vinte anos” Uma “desinformação” que, enfatiza, “gera tabus”.