Os números contidos no livro “Fontes Sofisticadas de Informação” lançado, esta quinta-feira, na Fnac do Norteshopping, no Porto, por Vasco Ribeiro, não são abonatórios para a classe jornalística.

Partindo da análise de quatro grandes diários portugueses – Correio da Manhã, Diário de Notícias, Jornal de Notícias e Público – nos anos de 1990, 1995, 2000 e 2005, o professor universitário chegou a uma grande conclusão: “só um terço do produto jornalístico” é produzido “por iniciativa das redacções”.

Já em 2006, quando o JPN teve acesso à tese de mestrado do docente da Universidade do Porto (UP), Vasco Ribeiro alertara que só em 1,3% do total das notícias analisadas foram identificadas as fontes profissionais de informação, como os assessores, e que o comum leitor não é capaz de notar esta intervenção. Um facto que “faz jus ao rótulo de ‘sombra’ frequentemente colado a estes profissionais”, pode ler-se no livro.

“Este estudo vem confirmar uma tendência mundial do jornalismo, que é a de que os jornalistas ficam à espera da informação”, afirma o professor universitário e responsável pela Comunicação e Imagem da UP.

Para Vasco Ribeiro, isto acontece cada vez mais “porque o jornalista não tem tempo” de correr atrás da notícia. E deixa a crítica: “no jornalismo não se pensa. Quantas pessoas nas redacções param para pensar? A maioria limita-se a ficar à espera”.

Instituições querem “controlar a imagem”

A justificação apontada por Vasco Ribeiro para a elevada escassez de produção jornalística própria já tinha sido expressa por Manuel Pizarro, secretário de Estado da Saúde, e David Pontes, director-adjunto da agência Lusa, ambos convidados para apresentar o livro ao lado do autor.

David Pontes destaca a “linha descendente” que o jornalismo tem vivido. Dotado de menos recursos económicos e humanos, a ajuda dos assessores “facilita” a manutenção de uma cobertura noticiosa alargada.

“Os assessores estão em todo o lado. Actualmente, todas as instituições, mesmo aquelas que eram mais fechadas, sentem necessidade de controlar a imagem que passam para fora.” Pontes defende que o problema não está só nas pressões que os assessores procuram exercer, mas também “no arcaboiço [dos jornalistas] de procurar o outro lado. O que eu vejo é menos jornalismo, e nós temos a obrigação de ir mais além”, concluiu.

Vasco Ribeiro destaca ainda a evolução que se tem verificado na sua profissão de assessor, cujo profissionalismo e sofisticação têm melhorado. “Saber ’embrulhar’ determinado acontecimento é meio caminho andado para conseguirmos publicar uma notícia.”

Unânime entre os três apresentadores da obra, que agrega dados analisados até 2005, é a opinião de que, nos últimos quatro anos, os números da influência dos assessores, relações públicas e outros profissionais de comunicação terão aumentado.

Questionado por uma jornalista do jornal Público sobre como inverter esta tendência, Vasco Ribeiro é peremptório ao afirmar que esse é um problema que o próprio jornalismo tem de resolver. “Eu não quero mudar, eu aproveito-me dessas fragilidades”, admitindo, no entanto, que a explosão das redes sociais pode trazer alguma mudança a esta realidade.