Alexandra Lucas Coelho sempre quis ser jornalista. Ou melhor, queria “fazer duas coisas: viajar e escrever”. O jornalismo simplesmente “apareceu” como a “possibilidade” de conseguir conciliar os dois desejos.

Jornalista do Público desde 1998, Alexandra Lucas Coelho tem vindo a centrar o seu trabalho na Ásia Central e no Médio Oriente. Escreve, desde 2002, sobre o conflito entre palestinianos e israelitas. Muitas são as memórias e as histórias que guarda dos seus trabalhos. Algumas delas encontram-se em “Caderno Afegão“, o livro publicado pela Tinta da China, em Setembro, que reúne notas sobre a sua incursão ao Afeganistão entre Maio e Junho do ano passado.

Como tudo começou

Em 1991, a jornalista fez um Interrail na companhia do seu namorado soviético comunista, com destino a Moscovo. Era lá que Alexandra se encontrava quando estourou o chamado Golpe de Agosto, o golpe de Estado que contribuiu para o fim da União Soviética.

“De repente, aos 23 anos, estava a viver aquilo tudo e tinha a sorte de estar com uma pessoa que falava russo fluentemente”. Começou, de imediato, a enviar trabalhos para a rádio e para o Público. “Estava completamente mergulhada na atmosfera”, recorda.

Em 2001, é enviada ao Paquistão para cobrir a expectativa de uma guerra no pós 11 de Setembro. Um ano depois, durante as férias, teve de ir para Jerusalém. “Eu não sabia nada sobre os territórios palestinianos. Uma coisa absurda: aterrei em Jerusalém com uma estúpida mala de rodinhas sem saber nada! Depois foi o princípio de uma história que dura até hoje.”

Através de indicações e contactos dados por Lisboa, conheceu e envolveu-se no conflito. “Foi uma experiência muito forte”.

Críticas

Na blogosfera, surgiram várias críticas quanto aos seus trabalhos. Muitos acusam a jornalista de exagerada parcialidade, favorecendo o lado palestiniano.

“O facto de compreendermos a situação dos palestinianos não exclui o facto de compreendermos o que os judeus sofreram e o direito que eles têm a ter uma pátria e uma terra. Eu não estou contra ninguém e não admito que me digam o contrário!”

Num cenário de guerra, convive-se com a dor e com a morte a todo o instante. Como se lida com isso? Quando está a trabalhar, Alexandra tenta concentrar a sua energia no mais importante.

“Lembro-me de no Afeganistão ter entrado no hospital e ter visto um bebé com um problema horrível que já não existe no Ocidente e foi uma coisa automática. Comecei a chorar compulsivamente. Depois, fiquei cheia de vergonha de mim própria. A certa altura, é um pudor. Temos que nos aguentar!”

Com três prémios na bagagem (Prémio Reportagem do Clube Português de Imprensa, Prémio da Casa da Imprensa e Grande Prémio Gazeta 2005 com “A nova Intifada de Ramzi“), Alexandra não quer parar de escrever. “É uma paixão”, diz. “Há tantas coisas que quero fazer, tantas histórias! O mundo não acaba.”