Dançam, saltam, gritam, dobram-se em quatro, esticam-se, tudo. Não é a nossa chegada que vai impedir os ensaios dos artistas do Circo Mundial, que, até 3 de Janeiro, se encontra em Vila Nova de Gaia. Neste momento, toda a atenção é dedicada à arena. Quando o treino terminar, aí sim, o mito desfaz-se. Depois volta, mal as bancadas estejam recheadas de pessoas prontas para mais uma noite de Circo

Rui Mariani criou o Circo Mundial há 15 anos e nunca teve outra vida que não esta. Começou como palhaço, “como todas as crianças pequeninas”, mas cedo percebeu que ainda não tinha a figura de um artista cómico. Virou-se para as alturas e só mais tarde se entregou definitivamente às feras.

“O meu pai tinha contratado um amigo, em ’67, que tinha um número de elefantes e de leões. Pedi-lhe para me ensinar e fui o primeiro domador de leões português”, conta Mariani. Depois de percorrer os cinco continentes, decidiu construir um circo de raiz. Apesar de não ter sido uma tarefa fácil, orgulha-se de tudo aquilo que criou.

Um passo de cada vez é a fórmula vencedora para a manutenção do Circo Mundial. “Eu fui criando o circo à medida do que ia ganhando. Isto foi subindo a pulso”, conta.

Crescer num circo

Actualmente, 40 pessoas trabalham no Circo Mundial. Não há uma única tarefa para cada um. Todos são polivalentes. Os homens que dão forma à tenda que, à noite, abriga os amantes de circo, são também aqueles que recebem os bilhetes na entrada e os que dão balanço às cordas dos trapezistas. É a única maneira de fazer face a um lucro negativo.

Ruben Mariani, filho do fundador do Circo Mundial, é um desses casos. No ensaio vemo-lo a praticar o seu número de palhaço e, à noite, a sua voz recebe os convidados. Ruben foi aprendendo a arte com os pais. Ao contrário da irmã, nunca teve a oportunidade de viajar e estudar ao mesmo tempo. Ficou em casa dos avós até completar o 10.º ano e logo que foi possível dedicou-se às artes circenses. Confessa que crescer num circo “não é fácil”, mas tudo se resolve com um pouco de paciência.

O “bichinho” que nasce com eles

À medida que os artistas se vão juntando na arena, é fácil perceber que a magia do circo não é só das crianças. Falam de um “bichinho” que trazem desde o nascimento, repetem que não se imaginam a fazer outra coisa.

Mesmo retirado do circo há 18 anos, “Bolinhas“, como todos o conhecem, não abandona o palhaço que a tantos faz rir.

Diz que seria possível fazer um filme com o seu passado. De vez em quando, e “para matar as saudades”, volta ao Circo Mundial e absorve todas as risadas necessárias para mais um ano longe da “grande família do circo”.

Uma das maiores atracções do espectáculo é o Homem-Bala, o protagonista dos cartazes espalhados por toda a cidade de Gaia. Todas as noites é disparado a 200 km/h e, em “três segundos”, ganha “mais do que muita gente num ano”. E não troca a vida nómada por nada.

“Se lhe dessem oportunidade de viajar durante todo o ano, conhecer o mundo inteiro ia preferir viver numa casa normal?”.