Nascida há 25 anos, fruto do desejo de um grupo de pais de autistas, a Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo do Norte (APPDA-Norte) tem hoje vários serviços à disposição, quer para o portador desta perturbação, quer para a sua família.

O Centro de Estudos de Apoio à Criança e à Família (CEACF), o Grupo de Autonomia e Socialização em Contexto (GASC) e o Centro de Actividades Ocupacionais (CAO) são alguns dos exemplos. Entre as acções oferecidas destacam-se as cozinhas pedagógicas, a terapia ocupacional, as idas ao cinema e as actividades desportivas, em parceria com a Faculdade de Ciências de Desporto e de Educação Física do Porto.

Além destas ofertas, existe ainda o Lar Residência que tem capacidade para vinte utentes, onde estão os jovens institucionalizados, que se encontram completamente “integrados nas residências”, salienta Marta Colim, auxiliar de acção directa da APPDA-Norte. Isto apesar de para alguns a “adaptação ter sido difícil”, já que não gostam “que se quebrem rotinas”.

A responsável revela que este lar é composto por quatro apartamentos T5 e estão todos preparados para receber os jovens. No entanto, não estão todos ocupados durante toda a semana, visto que alguns apenas dormem lá no fim-de-semana ou noutras alturas mais específicas.

O trabalho com os autistas

A dificuldade na comunicação com autistas é um dos maiores impedimentos na relação com estes jovens. Quando tal é possível, torna-se numa grande conquista para todos os envolvidos. Daí a terapeuta da fala Inês Freitas atribuir uma grande importância a este tipo de associação: “Contribui de forma significativa para as crianças e familiares de crianças com perturbações do desenvolvimento do espectro autista; são um apoio fundamental.”

Marta Colim conta que estes jovens são sujeitos a uma forte medicação. Sofrem, contudo, de crises constantes e imprevisíveis: “Já fui agredida por alguns deles durante estas crises.” Para a responsável, a demonstração de violência diz respeito às fortes dores que sentem e que não conseguem transmitir, reflectindo “um sofrimento retraído, que eles não conseguem explicar devidamente”.

Mas a agressão nem sempre se revela externamente. Por vezes resulta em auto-agressões que em casos mais graves chegam a provocar a cegueira, já que os olhos são um dos alvos mais usuais neste tipo de agressões. Pais e técnicos sentem-se impotentes perante esta situação. “Esta é talvez uma das maiores dificuldades no meu trabalho diário, porque não sei como ajudá-los. É frustrante”, lamenta a auxiliar.

Marta Colim não considera que os défices comunicacionais e cognitivos se traduzam na indiferença dos autistas na vivência em sociedade. Conclui que estas crianças “são muito inteligentes”. “Ensinam-nos coisas só com o olhar ou sorriso, pedem beijos. Ninguém pense que um autista é burro, pelo contrário”, sublinha.

A discriminação é outro dos problemas que os técnicos enfrentam, diz Colim. “Durante as saídas as pessoas olham muito para eles e também para nós. Olham com desagrado e isso irrita-me profundamente”. Apesar de esta discriminação ter vindo a diminuir ao longo dos anos, ainda continua a ser sentida.