O autismo é uma perturbação no desenvolvimento, que reúne várias características (tríade de Wing). “É uma condição ou estado de alguém que apresenta alheamento da realidade exterior e que se concentra nele próprio”, como explica Inês Freitas, terapeuta da fala.

As principais dificuldades revelam-se na capacidade em comunicar (como em jogos infantis, por exemplo) e no processo de aprendizagem. Marta Colim, auxiliar de acção directa da APPDA-Norte, diz que a comunicação é menos imediata: “Alguns são muito afectivos, outros evitam o toque, o que acaba por ser o mais comum”.

É comum os autistas apresentarem estereotipias (movimentos repetitivos do corpo) e outras doenças como a epilepsia, a esquizofrenia, a hiperactividade e o síndrome de Asperger – este é o caso do de André Vilaça.

Síndrome de Asperger

Distingue-se do autismo clássico por não influenciar negativamente no desenvolvimento cognitivo ou da linguagem do indivíduo, verificando-se essencialmente um défice na capacidade comunicação. Os principais sintomas desta síndrome são a dificuldade de interacção social, falta de empatia, interpretação muito literal da linguagem, dificuldade com as mudanças e a perseveração em comportamentos estereotipados.

A maior parte dos autistas é do sexo masculino, numa relação homem/mulher de quatro para um. Estima-se que, em Portugal, esta perturbação atinja 65 mil pessoas. Os primeiros sintomas são identificados ainda no início da infância, sendo que, por norma, o diagnóstico é estabelecido entre os 18 e os 36 meses. Este é considerado seguro a partir dos três anos de idade.

O autismo regista diferentes graus: o completamente autónomo (as perturbações não são tão significativas e afectam em menor modo o doente), o moderado e o profundo (requer cuidados especiais e específicos).

Admite-se que o autismo seja provocado por uma disfunção cerebral, manifestada a nível neurosifisiológico, neuro-patológico ou psicológico. Mas a verdade é que ainda se desconhece as verdadeiras causas da doença. O autismo não tem cura. Pode tratar-se e educar-se uma criança autista, mas não curá-la. Contudo, quem é autista não está impossibilitado de ter uma vida normal.

Viver com Autismo

Inês Freitas é terapeuta da fala e o seu trabalho passa por um contacto directo e permanente com crianças autistas. Inês considera esta uma actividade de “grande emoção e expectativa constante, já que ainda há muito que descobrir sobre o autismo, o que torna o trabalho ainda mais fascinante”. Tal implica “muita dedicação e calma, respeito e muita força de vontade” por parte dos terapeutas e das crianças.

Na APPDA-Norte estão muitos jovens institucionalizados e é Marta Colim quem os acompanha (com mais frequência no período nocturno). A responsável descreve as características destes jovens: “Não são doentes fáceis, não gostam que se quebrem as rotinas. Facilmente tornam-se obsessivos com algumas das actividades que realizamos.”

Inês Freitas também refere estas diferenças: “Cada caso é um caso e para cada criança há uma história de vida diferente.” Por isso, a terapeuta da fala elabora um plano terapêutico muito específico, pensado para cada criança. Para Inês, o seu trabalho, enquanto terapeuta da fala, “não se baseia no autismo em si, mas sim, na criança”.

A evolução no autismo é feita de forma lenta, sem colocar demasiada ansiedade e pressão emocional em quem sofre desta perturbação. Inês Freitas não deixa de exaltar os pequenos passos no desenvolvimento, pois “qualquer evolução é significativa e irá ajudar [os jovens] a integrarem-se na sociedade”.

A importância de uma aposta no desenvolvimento logo nos primeiros anos de vida é essencial para que os resultados sejam mais visíveis e permanentes. Tal implica um auxílio dos técnicos de saúde e de educação, de modo a que “mais potencialidades sejam dadas à criança para que esta se possa desenvolver da melhor maneira possível e envolver-se na sociedade”, ressalva Inês Freitas.