Depois de, ainda este ano, ter abandonado o cargo de presidente da direcção executiva da Escola de Gestão do Porto, Daniel Bessa anuncia agora que vai deixar o ensino em 2010. O horário preenchido é o problema. “Há noites em que me deito às duas, levanto-me às cinco, dou aulas, depois vou para Lisboa e volto, só chego a casa para jantar às 22h”, explica. “Quando se é novo aguenta-se isso melhor e pode fazer algum sentido, porque queremos mostrar a nós próprios que somos capazes. Mas a partir de uma certa altura deixa de fazer sentido”, conta, em entrevista ao JPN.

Professor universitário desde 1970, o seu sonho era formar-se em Direito, mas as poucas possibilidades financeiras da família não permitiram que fosse estudar para Coimbra, a única universidade portuguesa com o curso, na altura. Como “não tinha jeito para mais nada”, ingressou em Economia na Universidade do Porto.

Aluno brilhante e aplicado, optou pela carreira de professor universitário para escapar à recruta do exército. “Quando me formei em 1970, podia ter ido para a Sacor, mas havia aí um problema: se fosse trabalhar para o ramo petrolífero, passado pouco tempo tinha que ir para a tropa, para a guerra, e isso não me interessava”, declara.

Da passagem pela política, onde foi ministro da Economia do Governo de António Guterres, Daniel Bessa recorda o que aprendeu. O convite surgiu depois de ter conhecido casualmente o ex-primeiro ministro, numa conferência em Viana do Castelo. Mais tarde, quando Guterres “concorria para a liderança do PS” encontraram-se no Aeroporto Sá Carneiro, de passagem. “Ele disse-me: ‘se a vida me correr bem, vou chateá-lo’. A resposta que dei foi ‘se correr mal, chateie também’. Estabeleceu-se ali o princípio de uma relação”, conta, em entrevista ao JPN.

“Ser político ensina-nos muito sobre as pessoas”

Em 1995, o Partido Socialista vence as eleições legislativas e Daniel Bessa assume a pasta da Economia. Não desmente que, numa primeira fase, fica deslumbrado com o poder que tem enquanto ministro, mas rapidamente esmorece ao descobrir que não tem muito jeito para a “arte da política”.

A oportunidade de abandonar o executivo surge aquando da perda da batalha pelo horário dos supermercados. “O engenheiro António Guterres e outras pessoas do PS tinham um compromisso com algumas lideranças na área do associativismo empresarial para fecharem os supermercados ao domingo à tarde e eu achava que devia ser fechado o comércio todo”, relembra. “Havia esse compromisso e eu tinha um Secretário de Estado com uma opinião contrária à minha. Um belo dia, eu perdi e o meu Secretário de Estado ganhou. Quando é assim, só me resta ir embora”, assegura.

Entende que foi “útil” a Guterres na altura de captar votos e credibilizar as propostas do governo socialista. Porém, considera que, quando chegou ao poder, as coisas mudaram. “Já não era preciso conquistar votos nenhuns, era sobretudo satisfazer clientelas e eu para isso não tenho muito jeito.”

Apesar de tudo, e aos 61 anos, não tem dúvidas de que os cinco meses que esteve no governo foram aqueles em que mais aprendeu. “As pessoas são uma coisa quando estão em casa ou quando estão com os amigos e depois são outra coisa completamente diferente quando são confrontadas com o poder.” “Ser político ensina-nos muito sobre as pessoas”, conclui.