No ano do centésimo aniversário da República Portuguesa, o Museu de Serralves não quis deixar de assinalar a efeméride. Reservou, por isso, o final de 2010 para a exposição “Às Artes Cidadãos!”, um dos destaques da programação de 2010 [em PDF], que foi apresentada, esta terça-feira, em conferência de imprensa.

“Irá provocar uma controvérsia desejável”, espera João Fernandes, director do Museu. A exposição, que se inicia em Novembro, vai reunir obras de arte que fazem “referência ao activismo político”. É uma forma, diz o responsável, de “afirmar cidadania a partir da arte”, ao “questionar o que é hoje fazer actividade política ao mesmo tempo que se faz arte”.

No arranque do ano continuam as exposições “Augusto Alves da Silva – Sem Saída: Ensaio para o Optimismo“, “Serralves 2009 – A Colecção” e “BES Revelação 2009“.

3,3 milhões de euros para a programação

Em Março, inicia-se, verdadeiramente, a temporada de 2010, pelo menos no que toca às exposições. E praticamente com o “mesmo dinheiro gasto em 2009”, salienta Luís Braga da Cruz, vice-presidente da Fundação. Ou seja, cerca de 3,3 milhões de euros, que equivalem a 39% do orçamento global da fundação (8,5 milhões de euros).

Lourdes Castro regressa a Serralves, depois de em 2003 o museu ter albergado “Sombras à Volta de um Centro”. “É um regresso de Lourdes Castro aos públicos”, evidencia João Fernandes, já que a última retrospectiva da artista em Portugal ocorreu em 1992 na Gulbenkian.

Conhecida pela forma com que trabalha as sombras, a artista vê-se nesta mostra acompanhada por Manuel Zimbro, “companheiro de vida e colaborador”, como evidencia João Fernandes. “Ela era a sombra e ele era a luz”, diz o director, recordando uma frase de Zimbro.

O ano continua com uma mostra de Dara Birnbaum, das “primeiras artistas a trabalhar com televisão”, Grazia Toderi, José Barrias e Marlene Dumas, pintora desconhecida do público português, mas com grande reconhecimento internacional, sublinha João Fernandes.

Acenar a Bausch e Cunningham

O ciclo Sabor do Cinema regressa entre Janeiro e Fevereiro. Honrando a “longa sombra de certos desaparecimentos recentes”, como se pode ler no texto de apresentação escrito por Regina Guimarães, a programação fará, “não uma homenagem, mas um aceno” a nomes como Pina Bausch e Merce Cunningham, refere a programadora do serviço de Artes Performativas, Cristina Grande.

Um aceno feito, não só através de espectáculos como o de Cédric Andrieux, bailarino da companhia de Cunningham, mas também através de películas que relembram estes e outros nomes, como Buñuel e Fernando Lopes.

A partir de Abril regressa o ciclo “Documente-se!”, desta feita sob o tema “Sentidos do reconhecimento”. “Será uma reflexão sobre os processos de conhecimento e reconhecimento, sobre o que é reconhecido, quem reconhece, quem valida”, explica Cristina Grande.

Na música, destaque para os japoneses Mono, referências do pós-rock, que actuam no Auditório de Serralves, em Março. A 19.ª edição do Jazz no Parque recebe, em Julho, Vijay Iyer Trio, Bernardo Sassetti Trio com Perico Sambeat e Contact, uma super-banda constituída por Dave Liebman, John Abercrombie, Marc Copeland, Drew Gress e Billy Har.

Fazendo jus a um dos eixos estratégicos de Serralves, a instituição vai assinalar o Ano Internacional da Biodiversidade com uma série de conferências dedicadas ao tema. Através de um protocolo com a Fundação para a Ciência e Tecnologia, a instituição prepara-se para receber doutorandos que vão trabalhar na recuperação da Quinta do Mata-Sete.

Em agenda, estão também uma conferência de Jacques Gréber, o arquitecto que projectou os jardins de Serralves, e a edição de dois livros, um deles sobre o próprio Parque. Eventos como o “Serralves em Festa”, a “Festa do Outono” e o “Natal em Serralves” também estão confirmados, até porque a instituição não quer deixar de se aproximar das famílias e das escolas.