Para “corrigir a memória” e contar a história “de forma verdadeira”, a Fundação Aristides de Sousa Mendes marcou presença, esta quarta-feira, na evocação do Dia Internacional do Holocausto organizada pelo Colégio Luso-Internacional do Porto (CLIP).

Aristides de Sousa Mendes

Quando a 2.ª Guerra Mundial começou, Aristides de Sousa Mendes era diplomata português em Bordeaux. Pai de 12 filhos, mostrou que “era mais preocupado com os outros do que com a própria família”, como afirmou, ao JPN, o seu neto, Álvaro Apoim de Sousa Mendes. O cônsul sentiu que “tinha de desobedecer às ordens de Salazar, como ser humano e cristão”. O diplomata ficou conhecido pelo “Schindler português” quando assinou 30 mil vistos para a entrada de judeus em Portugal, em 1940. Foi punido por Salazar e acabou por morrer na miséria. O processo relativo ao cônsul só foi descobertos em 1988.

“O legado [deixado por Aristides de Sousa Mendes] tem de ser utilizado com conhecimento de causa, já que há a consciência de valores importantes, como a solidariedade com os povos”, disse, ao JPN, António Moncada de Sousa Mendes, neto de Aristides e membro da administração da fundação.

Os descendentes do diplomata português, que salvou milhares de pessoas do genocídio nos anos 40, deslocaram-se ao CLIP a convite da instituição, que tem vindo a programar uma série de iniciativas sobre o Holocausto. Uma prova, diz Álvaro Apoim de Sousa Mendes, presidente da fundação, de que a mensagem que o seu avô transmitiu “continua a ser actual, pois trata-se de um verdadeiro amor pelo próximo”.

Os netos de Aristides Sousa Mendes também falaram sobre as iniciativas da Fundação Aristides Sousa Mendes. Acções nas escolas, como a que aconteceu no CLIP, e o apoio a investigadores na publicação de livros e filmes (como é o caso de “O Cônsul de Bordéus”, que estreia em Junho nas salas portuguesas) são algumas das actividades da instituição.

Os netos pretendem ainda que a Casa do Passal, onde morou Aristides de Sousa Mendes, seja aberta ao público. Lá vai ser possível ver objectos e livros da biblioteca do diplomata, “para que se torne numa casa de paz e memória”. A propriedade, que tinha sido perdida pela fundação com a morte do cônsul, em 1956, foi recentemente adquirida pela instituição.

Para assinalar a efeméride, os alunos do CLIP preparam uma exposição sobre o tema e construíram, simbolicamente, um Muro das Lamentações.O Dia Internacional do Holocausto foi instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas para a memórias das vitimas. Foi a 27 de Janeiro que as tropas soviéticas entraram no campo de concentração de Auschwitz. Natália Almeida, membro e activida da Amnistria Internacional, relembra, a este propósito, que ainda existem genocídios actualmente, como o que acontece em Darfur, no Sudão.