O Porto saiu à rua para celebrar a primeira vez que se gritou “Viva a República!” em Portugal. A revolta republicana de 1891, embora falhada, marcou o arranque das comemorações do Centenário da República. Durante o fim-de-semana, diversos eventos animam a cidade. O primeiro dia, 30 de Janeiro, foi marcado por iniciativas como a inauguração de uma exposição no Museu Nacional da Imprensa, ou, já mais à noite, uma evocação da revolta nos Aliados e um concerto a quatro vozes, no Coliseu.

O Teatro do Campo Alegre foi o cenário escolhido como ponto de partida para as celebrações do Centenário da República portuguesa. Ao som de “Vivas” à República, a companhia portuense Seiva Trupe recebeu a Comissão Nacional das celebrações da efeméride e o Porto com a “Glorificação do Porto pelo Fervor Patriótico”, um espectáculo celebrado no “hall” do teatro e de entrada livre.

Segundo a porta-voz da Seiva Trupe, Nina Teodoro, a companhia foi convidada a participar, convite que foi aceite “de imediato”. A presença na efeméride “tem todo o significado para a SeivaTrupe porque é do Porto e isto [revolta republicana de 1891] foca-se muito no 31 de Janeiro”, explica Nina Teodoro.

O espectáculo iniciou-se com uma alocução sobre o movimento republicano portuense da altura, lida pelo professor jubilado pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP) e historiador, Francisco Ribeiro da Silva, que defendeu a importância da revolta de 31 de Janeiro para o sucesso da implantação da República em 1910. O papel do Porto na história da primeira República foi, também, salientado pelas intervenções teatrais da companhia Seiva Trupe em “Ecos do 31 de Janeiro”. No meio da multidão surgiram os actores que encarnaram diversas personagens e actos da época. No final, o público foi convidado a ver a peça de teatro “Eu sou a minha própria mulher” que hoje teve entrada gratuita, evento que esgotou rapidamente.

Período republicano na Imprensa portuguesa em exposição

O Museu Nacional da Imprensa apresentou ontem, pela mão do seu director, Luís Humberto Marcos, a exposição “República na Imprensa: do Porto a Lisboa”, que reúne uma centena de peças sobre a “Revolta do Porto”. A exposição mostra o modo como a imprensa portuguesa retratou a revolta de 31 de Janeiro, mas não só. Também o período antecedente faz parte da mostra, reflectindo a forma como o ideal republicano era difundido nos jornais portugueses.

O principal objectivo é mostrar “a força da imprensa”, numa época de ouro, em que a “Imprensa era determinada, guerreira e onde a auto-censura era praticamente inexistente”. Para Humberto Marcos, o Museu Nacional da Imprensa é “a casa da República, pois aposta na descentralização cultural, tal como “A República” fez”. Por isso mesmo, uma das preocupações da organização é “estender o véu da imprensa ao resto do país”, com a criação de núcleos nas capitais de distrito e nas regiões autónomas.

O espólio reúne artigos de “A República“, “O Diário Illustrado”, “Jornal de Notícias”, “O Século”, “O Primeiro de Janeiro” e o “Diário de Notícias”. Numa das máquinas pertencentes ao Museu (que retratam o modo como os jornais eram feitos) os visitantes podem assistir a uma impressão manual, com direito a uma gravura alusiva ao tema da exposição.

A exposição é constituída por dois núcleos: a “31 de Janeiro” e a “5 de Outubro”, sendo que o último só começa em finais de Setembro. Ambos duram até ao final do ano.