Nem mesmo a chuva que ameaçava cair dissuadiu as largas centenas de pessoas que se dirigiram ontem, sábado, à Praça da Liberdade, para ver a reconstituição da revolta republicana que, da varanda da antiga Câmara Municipal do Porto, proclamou, pela primeira vez em Portugal, a implantação da República.

Depois das diversas actividades promovidas durante o dia na cidade do Porto, foi pela mão do Ateneu Comercial do Porto e sob a direcção do encenador Norberto Barroca, que dezenas de actores, incluindo membros da GNR a cavalo e um canhão cedido pelo Museu Militar, ocuparam parte da Praça da Liberdade, junto ao edifício do Banco do Portugal. Daí, na varanda principal, foi proclamada de novo a República, à semelhança do que acontecera em 1891. Entre gritos efusivos de “vivas” à República, o fogo de artifício colocou actores e espectadores a olhar para o céu antes da batalha final, onde se representou o assassínio e prisão dos revoltosos e da população que se lhes juntara.

Ferreira dos Santos foi um dos muitos espectadores que marcou presença na reconstituição, embora entenda que o evento foi mal organizado. Momentos antes do início da reconstituição, recorda a madrugada retratada e a morte de centenas de republicanos.

Mais à frente, curioso para ver a reconstituição, encontrava-se Pedro Teixeira, portuense. Apesar de reconhecer a importância da revolta republicana na Invicta, prefere destacar a mais bem sucedida tentativa de 5 de Outubro de 1910, que levou à implantação da república em Portugal.

Levada a assistir à reconstituição pela divulgação nos jornais, Ana Teixeira confessa que achou “engraçada” a encenação, mas lamenta as mudanças de local da reconstituição (que, em vez de acontecer na actual Rua 31 de Janeiro e na Praça da Batalha, se limitou à entrada do edifício do Banco de Portugal, na Praça da Liberdade).

Concerto a quatro vozes

O Centenário da República foi o mote para um concerto pouco habitual. Rui Veloso convidou Rui Reininho, Pedro Abrunhosa e Sérgio Godinho para celebrarem juntos o Centenário da República. Para Rui Veloso, “foi um privilégio estar com estes amigos”.

Foi Rui Veloso quem iniciou o repertório, com “Porto Côvo”. Aliás, foram muitas as músicas alusivas à cidade, como “Pronúncia do Norte” (Rui Reininho e Pedro Abrunhosa) e “O Porto aqui tão perto” (cantado por todos).

O concerto revisitou clássicos da música portuguesa: “Não há estrelas no céu” (Rui Veloso), “Se eu fosse um dia o teu olhar” (Pedro Abrunhosa), “O Primeiro Dia” (Sérgio Godinho) e até “Bem Bom” (das “Doce”), numa versão de Rui Reininho”.

Pedro Abrunhosa salientou a importância do Porto nas comemorações, já que “é uma cidade que nunca se deixou dominar e creio que nunca se vai deixar enganar”.

Um dos duetos da noite foi o tema “Chico Fininho”, por Rui Veloso e Sérgio Godinho. O cantor afirmou o seu aprezo pela data comemorada: “o 31 de Janeiro é uma data que me vai duplamente na alma. Foi o meu bisavô quem leu a proclamação do 31 de Janeiro”.

Rui Veloso anunciou que o concerto vai ser lançado em DVD. O Hino Nacional, a “Portuguesa”, foi o tema escolhido para terminar o concerto.