Foi em 1982 que os Taxi conquistaram as rádios e as tabelas nacionais, ao som de singles como “Chiclete” ou “Cairo”, mas já desde os dezoito anos que João Carvalho, mais conhecido por João Grande, tentava vencer no mundo da música.

Em 1972, enquanto guitarrista, formou a banda “Sticky Fingers”, nomeada em tributo a um dos mais famosos álbuns dos Rolling Stones. Aqui, ganhou a alcunha de João Grande, por oposição ao vocalista da banda, conhecido por João Pequeno. Mais tarde, junta-se aos “Pesquisa”, grupo que foi convidado a integrar já como vocalista e que deu origem, em 1979, aos Taxi.

O álbum homónimo surgiriam em 1981. Embora cantassem temas originais em inglês, o primeiro trabalho foi totalmente interpretado em português, a pedido da produtora Polygram. Gravado em apenas uma semana, tornou-se o “primeiro disco de ouro do rock português” e vendeu mais de 35 mil exemplares.

O contacto com a fama que se seguiu, conta João Grande, foi encarado de forma muito natural, mas teve “vantagens óptimas”, como a convivência com pessoas do meio artístico “com uma visão muito mais alargada e não tão curta e mesquinha.”

Apesar do enorme sucesso que alcançou nos anos 80, o vocalista portuense nunca abandonou o trabalho como funcionário de uma instituição bancária. “O nosso país é muito pequeno”, justifica. “Apenas dois ou três grupos – Xutos e Pontapés, GNR e poucos mais – vivem só da música, e mesmo esses têm sempre outras actividades”, explica.

Um regresso pouco ansiado

O último álbum da banda, “The Night”, lançado em 1987, foi um “flop”, como o próprio afirma, e o que se esperava ser um pequeno interregno transformou-se num hiato de vinte anos. A banda reaparece em 2006, num programa de comemoração dos 25 anos do “Febre de Sábado de Manhã”. O regresso, admite, foi pouco ansiado e só aconteceu porque “era o Júlio Isidro” que o apresentava, a quem afirma deverem muito.

Foram mais tarde convidados a actuar na Casa da Música, quando começaram a ponderar em “criar alguma coisa de novo”. Da vontade surgiu o lançamento do álbum “Amanhã”, em Junho de 2009. Desde então, João Grande tem estado ocupado com ensaios e concertos, mas diz continuar a ter tempo para um dos seus principais hobbies: navegar no Youtube.”Aquilo é um bocado como as cerejas: uma pessoa vai aqui e depois passa logo para outro [vídeo] e depois para outro. É interminável”. Para além do “vício” do Youtube, confessa também ter uma grande paixão por livros e apreciar autores como Erico Veríssimo, “um dos grandes escritores brasileiros”, que considera “estar ao nível do Jorge Amado” e Jack Kerouac.

Quanto ao futuro, não fala de projectos. Diz apenas que “a Deus pertence” e que o que importa é “aproveitar o momento”.

Ligação ao Porto

Ao contrário de músicos como Rui Veloso e Heróis do Mar, que rumaram em direcção a Lisboa em busca de sucesso, João Grande sempre preferiu a sua terra de origem. Apaixonado pelo Porto, nasceu na rua D. Manuel II, freguesia de Cedofeita. A proximidade ao Palácio de Cristal fez deste sítio o local preferido do vocalista. Em pequenino “dizia sempre que queria ser porteiro do Palácio”.

Frequentou o Colégio Italiano, que é agora o Consulado, até à quarta classe e, aos oito anos, mudou-se para a rua António Patrício, na zona da Boavista. Aqui conheceu os elementos da sua primeira banda, os “Sticky Fingers”, e permaneceu até se casar. Hoje reside junto ao Parque da Cidade, uma das principais referências do Porto e outro dos seus locais favoritos.