Um confronto com emoções fortes e duras marcadas pelo preconceito e o moralismo humano. Em “Blackbird” Miguel Guilherme protagoniza Ray, um homem de 45 que é confrontado com Una (interpretada por Isabel Abreu) a mulher de 27 anos com quem manteve um relacionamento amoroso há 15 anos. “Cada pessoa faz a sua leitura do que vê. Se é uma história de amor, se é um abuso. Tudo isto fica ao critério de cada um e varia muito”, explica ao JPN o encenador Miguel Guedes acerca da ambiguidade do enredo.

Em cena de 5 a 14 de Março a cargo do TNSJ, mas com exibição no Teatro Carlos Alberto (TECA), a obra assinala o regresso de Tiago Guedes, que trocou a tela do cinema pelo palco. Em 2006 estreou-se no teatro com “The Pillowman”, a história de um infanticídio que se revelou tão “gratificante” que o fez regressar. A coincidência de tratar “temas difíceis” em ambas as peças não foi intencional. O encenador entende que os últimos temas que tem tratado são “muito pesados” e considera que deve “mudar um pouco, se não fica tudo muito negro”.

Um espectáculo que “levamos para casa”

Da autoria do dramaturgo escocês David Harrower, “Blackbird” aborda a questão da pedofilia no sentido de transgressão do que normalmente é tido como errado na sociedade. Para Isabel Abreu, o tema podia “ser abordado de forma muito moralista” mas é apresentado “sem juízo de moral”, deixando que “o espectador pense por si”e confronte os seus preconceitos. Já Miguel Guilherme confessa que esta peça “foi um marco” na sua carreira de actor e que sente “muito prazer a fazer este espectáculo” pois “é muito lúdico, muito intenso” e “exige dos actores o máximo de verdade”.

Para o encenador, este é um espectáculo que “levamos para casa e não termina quando se acaba de ver”, uma opinião partilhada pelos protagonistas da obra. Tiago Guedes acredita que peça vai ter sucesso no Porto, tal como aconteceu em Lisboa, no Teatro Nacional D. Maria II, onde foi apresentada anteriormente.

Notícia corrigida às 14h34 de 8 de Março de 2010