No Café Lunar reúnem-se muitos dos moradores do conhecido Bairro Social de Aldoar. A conversa faz-se à volta de uma chávena de café e as discussões habituais, deram lugar a um novo tema: o aumento das rendas. Para uns, uma ameaça pendente, para outros já uma dura realidade. Maria da Conceição Guedes já foi notificada do aumento da sua renda mensal, que vai passar de 35 para cerca de 54 euros mensais. Mas este não é caso único.

Já no “coração” do Bairro, enquanto dois moradores falavam amigavelmente junto de um marco de correio, Maria Mendes, habitante “há 8 anos” num dos muitos blocos que compõem o Bairro, explicou que também viu a sua renda aumentada recentemente de 10 para 54 euros. Este aumento, que se prevê gradual, já que se fará em dois anos, está a causar revolta junto dos moradores, alguns dos quais se juntam a Maria Mendes, para expor a sua indignação.

Obras justificam o aumento

A Câmara Municipal do Porto (CMP) aponta como razão para o aumento das rendas, no Bairro de Aldoar e noutros bairros, as obras de remodelação realizadas no exterior dos edifícios. Alda Macedo, deputada do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal do Porto discorda desta justificação e afirma que “a desculpa das obras é uma desculpa completamente esfarrapada”. Isto porque grande parte dos fundos utilizadas para as obras têm como origem o programa PROHABITA e um empréstimo da CMP que só começa a ser pago daqui a três anos.

No terreno é visível a diferença entre os edifícios que sofreram uma intervenção e os que ainda não foram renovados. Porém, os moradores dizem não estar satisfeitos com o resultado das obras pois, na sua opinião, o importante era “melhorar” o interior das habitações e acrescentam que a qualidade das modificações no exterior deixa muito a desejar. Alda Macedo, alertada pelos moradores para esta realidade, refere que “não houve nenhuma obra naquilo que é a melhoria do conforto e do bem-estar das habitações” . “Aliás, algumas destas obras, do ponto de vista técnico, são obras que se apresentam com grande debilidade”, remata.

Os moradores que manifestam a vontade de melhorar as condições do interior das suas casas, têm de pagar do “seu bolso” as obras. Mas com os pequenos rendimentos que auferem, são poucas ou nenhumas as intervenções que podem fazer. Maria Monteiro afirma que precisa de receber a reforma “em duplicado” para poder melhorar a sua casa, enquanto Maria Guedes ficou a deverdinheiro para poder ter água quente.

Falta regulamento

Alda Macedo refere que uma das grandes falhas neste sector é o pagamento de rendas basear-se só no rendimento líquido do agregado, não sendo tida em conta a existência de outras despesas fixas como, por exemplo, medicamentos. Questionados sobre esta situação, os moradores dizem que nunca lhes foi pedido qualquer tipo de documento para justificar estes custos.

Numa altura de crise económica, torna-se difícil pagar o aumento nas rendas e o futuro avizinha-se incerto para muitos dos moradores dos bairros sociais portuenses.