Existem mais mulheres a estudar na Universidade do Porto. Quando se olha para os quadros de docentes e investigadores, porém, a realidade é outra. Aqui as mulheres não são a maioria. Ainda.

Embora ainda não tenham sido divulgados os dados oficiais de 2009, fonte da reitoria da Universidade do Porto garante ao JPN que se prevê um “aumento do sexo feminino” a todos os níveis, nomeadamente no que toca à docência e investigação.

Isto porque, actualmente, nos níveis superiores (mestrados e doutoramentos) há mais estudantes mulheres que vão seguir investigação, o que, a médio/longo prazo, vai diminuir “o fosso entre géneros”.

Clara Frias, investigadora da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) vê “com bons olhos” o aumento de mulheres em todas as áreas, particularmente na Engenharia, onde considera que podem dar “outra visão”. Para a investigadora, “tudo deve tender para o equilíbrio” e já se nota uma mudança “mesmo em áreas completamente machistas”, como acontece em determinadas engenharias.

Hoje em dia, segundo o que explica a presidente da Associação Portuguesa de Mulheres Cientistas (AMONET), Helena Pereira, em Portugal assiste-se a uma considerável proliferação de mulheres a frequentar o ensino superior e a integrar equipas de investigação; no entanto, “quando se trata de ter lugares de chefia ou comissões de avaliação, as mulheres não aparecem”.

Todavia, para Sandra Ribeiro, investigadora do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC), “o ideal é ter pessoas a ocupar os cargos de chefia que tenham qualidade, capacidade, boas qualidades de liderança”. “Não é tanto uma questão de género.”

Inversão do poder

O investigador José Azevedo, da Faculdade de Letras da UP (FLUP), estudou as razões para a sub-representação das mulheres nos ramos da Ciência e da Tecnologia. Concluiu que o grande número de mulheres que hoje atingem um elevado nível académico justifica a afirmação que estamos a entrar numa fase de inversão de poder. Prevê-se que daqui a 20 anos, em Portugal, o topo seja todo feminino. “Em algumas profissões vamos ter uma política de sub-representação dos homens”, salienta.

Confrontada com esta previsão, Clara Frias nota a importância da equidade. Se há alguns anos havia um “desequilíbrio” pelos cargos de chefia serem “completamente ocupados por homens”, caso haja uma inversão vai criar-se “um pouco no que se passou há uns anos”. Para a investigadora da FEUP, o equilíbrio é a chave do sucesso. Sandra Ribeiro considera que esta situação se trata de um “um ciclo natural”, mas o acesso a lugares de liderança vai “depender das pessoas”, independentemente do género.

Citando Darwin pode dizer-se que a diversidade (neste caso de géneros) é essencial para a evolução. Esta alteração de mentalidade é, porém, inevitavelmente lenta e gradual. Para a presidente da AMONET, a diversidade de escolha é um passo em frente para a qualidade. Mas, sublinha, “ninguém gosta de perder posições de supremacia”.