No âmbito de um estudo sobre o desenvolvimento dos fetos de mães viciadas em cocaína, um investigador da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) descobriu, pela primeira vez, no ouvido humano, uma enzima que normalmente só aparece quando os neurónios estão a começar a desenvolver-se. Para Nuno Trigueiros Cunha, isto ajuda a provar que os bebés de mães viciadas em cocaína desenvolvem-se a um ritmo mais acelerado, o que pode causar problemas.

Os resultados do ensaio com fêmeas de rato grávidas revelam que nos fetos expostos à cocaína surgem complicações que se podem traduzir na surdez. A exposição dos fetos à droga provoca um avanço (de quatro dias, em relação ao normal) na maturação das estruturas auditivas em formação.

O investigador levou a cabo o estudo com o objectivo de demonstrar que “tem toda a lógica” os dependentes de cocaína serem pessoas envelhecidas. Para isso, comparou a acção do estupefaciente na formação do sistema auditivo dos fetos com outros indicadores.

A descoberta nesta zona da enzima tirosina hidroxílase foi importante para comparar os “estádios de desenvolvimento, em animais expostos e não expostos à cocaína”, explica o investigador. “Esta enzima é fundamental para perceber em células já mortas, o estado de desenvolvimento dos neurónios.”

O investigador da FMUP sublinha os efeitos nefastos do estupefaciente. A exposição à cocaína pode provocar uma “dessincronização do desenvolvimento”, uma vez que outras investigações demonstram que, ao contrário do que acontece no ouvido interno, pode provocar um atraso no desenvolvimento.

Em relação à sua descoberta, Nuno Trigueiros Cunha realça ainda, que “nada acontece por acaso”. Deduz então, que a tirosina hidroxílase deve ter um papel no organismo: “provavelmente proteger os neurónios quando são muito vulneráveis.”