Foi em 11 de Março de 2004 que um ataque orquestrado por células da organização terrorista Al Qaeda assolou, às primeiras horas da manhã, a capital espanhola. Dez bombas explodiram nas estações madrilenas de Atocha-Cercanías, Santa Eugenia e Pozo del Tío Raimundo (ver infografia), tirando a vida a 191 pessoas e ferindo mais de duas mil pessoas.

O atentado, reivindicado pela organização terrorista fundamentalista islâmica Al Qaeda, foi o maior de sempre na história espanhola. As dez explosões, que ocorreram entre as 7h37 e as 7h39 da manhã, ficaram na memória de todos. A cidade despertou entre o caos das sirenes, dos gritos e das primeiras imagens que saíam nos noticiários televisivos.

Madrilenos vivem o dia-a-dia com normalidade

Beatriz, de 23 anos, é natural de Salamanca, mas, actualmente, vive e estuda em Madrid. Os atentados de 2004 assustaram-na, mas não a impedem de fazer uma vida normal, embora com algum medo .

Hernando, natural da capital espanhola, apanha todos os dias o comboio que faz a ligação entre Alcalá de Henares e Madrid. Os 3 comboios esventrados pelas bombas artesanais no dia do ataque faziam esse mesmo percurso. Para ele, o nível de segurança mundial não mudou tanto assim depois dos atentados do “11-M”. Afinal, “os terroristas continuam aí”, explica. Mas Hernando lembra que os primeiros dias foram de medo e pânico. Agora as coisas estão diferentes, reconhece. Ainda assim, não deixa de prestar atenção aos locais onde se senta quando entra no comboio.

Maria, uma outra passageira diária da “Renfe”, a companhia estatal que opera no mercado dos transportes ferroviários espanhóis, diz que hoje as pessoas estão mais conscientes do que pode acontecer, embora, no caso dela, a sua vida pessoal não tenha sido afectada. Mas admite que o medo vai existir sempre. É um risco que tem de correr para poder viver.

Cristina é amiga de Maria e, tal como ela, viaja todos os dias de comboio. Revela não ter medo, porque, provavelmente, não faz questão de pensar na possibilidade de estar envolvida num atentado.

Hernando confessa que as pessoas originárias dos países muçulmanos são, de alguma forma, olhadas com medo e desconfiança. Mas não tanto como no princípio. O passageiro conta que, nos primeiros tempos, as pessoas não se sentiam seguras em lado nenhum. As revistas corporais eram constantes. Uma simples mochila assustava.

Seguranças e vigilantes estão sempre alerta

O JPN tentou ouvir alguns seguranças da estação de Atocha, mas todos declinaram o convite para falar sobre o que mudou com os atentados da Al Qaeda. Um dos vigilantes limitou-se a assumir que o dia 11 de Março foi “duro demais” para que se volte a falar nele e que nenhum outro membro do corpo de vigilância aceitará falar sobre o que se passou naquela “quinta-feira fatal”.

Estes seguranças vigiam todos os dias, a “pente fino”, a estação de Atocha. Há sempre uma mochila perdida e um dono à procura dela. Enquanto Hernando conversava com o JPN, um vigilante perguntou-lhe se “aquelas malas“, que se encontravam a dois metros dele, lhe pertenciam. Hernando, de imediato, girou a cabeça num gesto de negação. Segundos depois, surgiu o dono das malas. Desculpou-se, apenas tinha ido comprar água.