Descobrir o departamento do Loire é percorrer lugares que só existem na nossa imaginação. Subimos a um monte e vislumbramos um castelo no meio de uma ilha. Chegamos a Saint-Jean-Saint-Maurice e encontramos uma autêntica casa de bonecas transformada em pousada. Visitamos Charlieu e no hospital que agora é museu inspiramos o mesmo cheiro acre que envolvia os doentes.

Comecemos pela comuna St-Jean-St-Maurice. Debruçado sobre o Loire, o recanto arqueológico Saint-Maurice-sur-Loire inspira fantasias de cavaleiros e princesas. Lá em baixo vislumbramos o Lago de Villerest, um lago artificial que é o maior existente no leito do rio. Na igreja da vila temos frescos do século XIII, que só foram descobertos entre 1912 e 1918.

Como chegar:

O carro é a melhor forma de conhecer, de lés a lés, o vale do Loire. Caso não tenha viatura própria, a empresa Établissements Bénier providencia um motorista.

E eis que o tempo pára ao cruzarmos o portão da L’Echauguette. Só o chilrear dos pássaros nos desperta do silêncio do Loire. Michèle e Didier Alex aparentam ser os guardiões de um palácio, onde esquilos roubam avelãs nas varandas. Há quartos entre 57 e 77 euros.

Outra sugestão para pernoitar na zona é o Castelo de Champlong, que remonta ao século XIV, e hoje é um hotel de charme, completamente renovado. Há doze quartos, cada um com a sua decoração e cada um com a sua especiaria (de noz-moscada à paprica, do anis à canela). O castelo também tem um restaurante, mas, bem perto, temos o Côte Vignes, com menus por cerca de 24 euros.

A vila de Charlieu e o castelo da Bâtie d’Urfé

A uma hora de Saint-Étienne esconde-se Charlieu. É uma vila pequena, de cerca de quatro mil habitantes, em que a hospitalidade nos desarma. Para começar, um aperitivo: O Praluline, o bolo típico de Charlieu, com uma forma de confecção única que torna as amêndoas cor-de-rosa. Diga-se, aliás, que os chocolates Pralus são um dos segredos desta vila medieval.

Aqui há casas do século XIV com enxaiméis à vista e a Terre de Feu, uma loja de ceramistas à procura de artistas portugueses para intercâmbio. E ainda o Museu Hospitalar e o da Seda.

O hospital religioso gerido pelos Beneditinos, que encerrou completamente em 1980, é agora um museu bipartido. De um lado, a seda, os teares que ainda hoje funcionam, as amostras de tecido confeccionadas num ateliê no interior do museu. Do outro, o hospital, com um laboratório conservado na perfeição – até os cheiros foram recriados -, uma sala de operações que pensávamos que já não existia e, até, uma pequena capela, para que os acamados escutassem a missa.

O Loire tem ainda um outro esconderijo. O castelo da Bâtie d’Urfé foi o berço de Honoré d’Urfé, o primeiro grande romancista francês, autor de “L’Astrée”, um livro com 100 mil e 499 páginas. Honoré foi neto de Claude d’Urfé, que, no século XVI, foi embaixador em Roma. Um autêntico homem do Renascimento. Exerceu funções militares, foi tutor dos filhos do rei Henrique Francisco II, tinha uma biblioteca com mais de 4600 livros.

Foi Claude quem decidiu construir um castelo à semelhança daqueles destruídos por Richelieu no vale do Loire. A 40 minutos de Saint-Étienne, em Forez, o castelo da Bâtie d’Urfé, classificado como Monumento Nacional em 1912, é um poço da Renascença. Há uma esfinge que aconselha os visitantes a preservar a cultura. Há a gruta de Rocaille, a única gruta artificial do séc. XVI ainda conservada em França. Seixos, conchas, búzios e estalactites formam figuras mitológicas e motivos geométricos. Seria uma sala para reflectir, tal como os majestosos jardins que envolvem o castelo.