Milhares de cidadãos tailandeses agruparam-se no fim-de-semana e na segunda-feira nas ruas de Banguecoque exigindo novas eleições devido à forte clivagem social que se vive no país. No início, os protestos contra o primeiro-ministro, Abhisit Vejjajiva, eleito pelos “camisas amarelas”, eram pacíficos, mas ontem, segunda-feira, foram lançadas três granadas que feriram dois soldados. Porém, ainda não foi confirmado se a agressão partiu de elementos dos “camisas vermelhas”, partidários do ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra.

Instabilidade política na Tailândia:

Apesar do golpe de estado de 2006, as eleições seguintes trouxeram de novo o partido do populista Thaksin ao poder. Ainda assim, as fortes contestações de 2007, levadas a cabo pelos “camisas amarelas”, que, entre outras acções de protesto, fecharam o aeroporto de Banguecoque, levaram à queda do Governo dos “camisas vermelhas”. Thaksin vive exilado no estrangeiro, depois de ter sido formalmente acusado de corrupção.

O ataque aconteceu pouco depois do actual dirigente do Governo, apoiado pela poderosa elite militar e empresarial do país, aparecer em directo na televisão afirmando que não era o momento oportuno para convocar um acto eleitoral. Segundo divulga a agência Reuters, especialistas acreditam que, neste momento, se houvesse eleições, ganharia o partido de Thaksin.

Fontes da polícia consultadas pela agência, admitem que a multidão alcançou os 150 mil apoiantes dos “vermelhos”, na noite de sábado para domingo, embora ontem o número de participantes se tenha reduzido para os 70 mil.

Karn Yuenyong, director do centro de estudos independente Siam Intelligence Unit, citado pela Reuters, assegura que os manifestantes têm um dilema. Segundo o especialista, “aumentar a intensidade dos protestos pode provocar distúrbios, o que pode arruinar a credibilidade e legitimidade [dos “camisas vermelhas”], mas o contrário pode levar a que percam força”.
Um agricultor da província de Chantaburi, no leste do país, citado pela Reuters, declarou que, sem luta, ninguém os vai ouvir. “Nunca se conseguiu nenhuma mudança sem o derramamento de sangue. Se não queimarmos nada, vão ouvir-nos?”

O eleitorado na Tailândia enfrenta actualmente grandes discrepâncias sociais. A maioria dos manifestantes é composta por camponeses pobres que com a destituição do antigo dirigente do Governo, Thaksin, num golpe de estado em 2006 (ver caixa), viram os seus direitos ainda mais reduzidos. A outra fracção da população, que apoia o partido do Governo, os “camisas amarelas”, é a elite urbana, constituída por monárquicos apoiantes do rei Bhumibol.