Os investigadores do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), Alexandra Matias e Nuno Montenegro, mostraram num estudo que a avaliação do retorno venoso no ductus (uma pequena veia que liga o cordão umbilical ao coração do feto, assegurando a passagem de sangue rico em oxigénio) permite detectar a existência de síndrome de transfusão feto-fetal com uma sensibilidade na ordem dos 80%.

Alexandra Matias, uma das responsáveis pela investigação, explicou ao JPN que o problema se centra nos gémeos verdadeiros com placenta monocoriónica, ou seja, partilhada por ambos os fetos. Neste caso, verificou-se que “a existência de uma onda anormal no ducto venoso num ou ambos os fetos poderia ser um sinal muito precoce de insuficiência cardíaca”.

Com o estudo, os investigadores provaram que avaliação da veia que liga o cordão umbilical ao coração do feto permite antecipar o diagnóstico para a 11.ª/13.ª semana de gestação. “O nosso teste é de rastreio para identificar o subgrupo de risco que vai desenvolver a síndrome de transfusão feto-fetal, de modo a que se possa oferecer uma vigilância mais apertada”, salienta a investigadora, referindo ainda que a avaliação do fluxo sanguíneo no ductus venoso é feita por ecografia obstétrica.

Cirurgia para solucionar o problema não é realizada em Portugal

A patologia afecta as gravidezes de gémeos monocoriónicas biamnióticas (onde existe apenas uma placenta partilhada por ambos os fetos e dois sacos amnióticos). Nalguns destes casos, os gémeos partilham também o sistema circulatório na placenta. Quando tal se verifica, um dos gémeos (dador) efectua transfusão de sangue para o outro gémeo (receptor). Como consequência desta complicação, o gémeo dador cresce mais e fica congestionado e o receptor torna-se anémico. A detecção e solução atempada do problema impede a morte dos dois fetos.

A cirurgia que pode melhorar o prognóstico da doença, pondo termo à troca de sangue entre os dois fetos e impedindo a morte de ambos, ainda não é feita em Portugal. Segundo a investigadora, tal acontece porque “os casos desta síndrome em Portugal são muito reduzidos”. Em cem mil partos verificam-se cerca de 12, 15 casos por ano”, acrescenta. Deste modo, as grávidas que apresentem esta complicação são encaminhadas para cidades europeias como Londres, Bruxelas ou Paris e o tratamento é suportado a 100% pelo Sistema Nacional de Saúde.

A investigação, se iniciou em 1996 quando estavam a estudar o retorno venoso no feto, provou que “só no ducto venoso a onda produzida pelo sangue estava alterada mais frequentemente nos fetos com trissomia 21 ou que tinham algum tipo de defeito cardíaco”. A partir de então, os investigadores decidiram aplicar o rastreio de trissomia 21 às gravidezes de gémeos.