Depois dos sucessivos aumentos dos preços dos combustíveis e dos vários pedidos da Associação Nacional das Transportadoras Portuguesas (ANTP) ao Governo com vista a uma rápida intervenção, os camionistas portugueses e espanhóis admitem agora fazer uma greve à escala peninsular.

Está assim agendada para, hoje, quarta-feira, ao início da tarde, uma reunião em Madrid, na qual as duas associações de transportadoras, portuguesa e espanhola, vão reunir-se para debater medidas e analisar meios de combate ao aumento do preço dos combustíveis.

Bloqueio de 2008 fez um morto:

A 9 e 11 de Junho de 2008, também por causa do elevado preço dos combustíveis, as principais estradas portuguesas ficaram bloqueadas por centenas de pesados de mercadorias. Na altura, o primeiro-ministro, José Sócrates, admitiu sentir a vulnerabilidade do Estado perante o protesto sem precedentes. Os camionistas, uns em piquetes de greve e outros impedidos de circular pelos colegas, deixaram de abastecer os supermercados, os postos de abastecimento e as empresas. Com efeito, as forças de segurança tiveram de racionar os combustíveis e os bombeiros, por exemplo, viram-se obrigados a limitar as saídas às emergências. Vários camiões foram apedrejados e incendiados por todo o país. Dos protestos resultou um camionista morto em Alcanena.

“O que nos une é o desconforto que, quer os transportadores portugueses, quer os espanhóis, sentem neste momento com a questão dos combustíveis”, disse, à agência Lusa, António Lóios, secretário-geral da ANTP, associação criada depois da greve dos camionistas em Junho de 2008. O responsável evidenciou ainda que a reunião foi convocada por iniciativa da federação nacional das associações de transportadoras espanholas.

Para o sindicalista, “não faz sentido que em Portugal o gasóleo já esteja a 1,2 euros por litro quando o barril do petróleo está a 85 dólares (cerca de 60 euros). Não faz sentido que os governos, quer o espanhol quer o português, estejam a dar cobertura às empresas”, para que estas ganhem “desmesuradamente com a venda dos produtos petrolíferos”.

Quando “o preço do barril de petróleo aumenta, aumenta o preço dos combustíveis” e quando o preço do petróleo baixa, as petrolíferas não reduzem o preço dos combustíveis, lamenta o sindicalista.

ANTP quer ver as exigências cumpridas

Há já alguns meses que a ANTP está a tentar negociar com o Governo um conjunto de reivindicações. Do rol de exigências constam a aplicação da directiva comunitária que permite a redução de oito cêntimos no litro do gasóleo, a alteração da lei das contra-ordenações, a não utilização de portagens nas SCUT, a redução em 50% do custo das auto-estradas à noite, a não taxação das ajudas de custo no sector, como prevê o Programa de Estabilidade e Crescimento, e a alteração do Código do Trabalho.

A 27 de Março, a ANTP estabeleceu um prazo ao executivo português. Os sindicalistas deram um mês ao Governo para responder às reivindicações do sector, deixando em aberto a possibilidade de um novo cenário de bloqueio geral.

Está previsto que, a 24 de Abril, os associados da ANTP se voltem a reunir, em Rio Maior, para verificarem o avanço das reclamações. Caso o Governo não ceda, os sindicalistas ameaçam a paralisação do sector.