Foi com bastante apreensão que os vereadores da oposição da Câmara Municipal do Porto (CMP) receberam o projecto “Cidade Subterrânea” da Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) Porto Vivo. O projecto, que prevê a construção de um túnel de estacionamento no Centro Histórico da Cidade, foi apresentado na reunião de Câmara de ontem, terça-feira, na qual a SRU expôs o balanço do trabalho desenvolvido.

O túnel que a SRU quer construir comportará, em média, 2300 lugares, que servirão para resolver a carência de estacionamentos. Terá uma extensão de 957 metros e ligará o Largo de S. Domingos à zona Sul da Rua das Taipas. Para a sua construção está previsto um custo de 31,6 milhões, com financiamento europeu de 6,97 milhões. A obra “tem que ser executada” em três anos, revela a voga e administradora delegada com funções executivas na SRU, Ana Paula Delgado, contactada pelo jornal Público.

Os vereadores do PS e CDU, Correia Fernandes e Rui Sá, respectivamente, em declarações ao JPN, mostraram-se preocupados e apreensivos relativamente a construção do túnel no eixo Mouzinho/Flores.

Correia Fernandes diz estar surpreendido com este projecto, pois “não o conhecia”, nem “foi dado nenhum conhecimento público” do mesmo. “A notícia apanhou-nos praticamente de surpresa”, revela. Também Rui Sá está preocupado com a situação pois, como refere, “os legítimos representantes dos cidadãos do Porto nunca tomaram conhecimento” do projecto, que deveria, segundo o vereador, ter sido alvo de “uma discussão prévia”. Assim, propõe que “sejam descritos os objectivos, os custos, as vantagens e inconvenientes do projecto”.

Políticas de Mobilidade da cidade em causa

“Este projecto vai contra as políticas de mobilidade da cidade”, destaca o vereador da CDU. Rui Sá vai mais longe, afirmando que a Câmara Municipal do Porto deve ter conhecimento das intervenções do urbanismo na cidade. “A transferência de competências da Câmara para a SRU é a minha grande preocupação”.

Correia Fernandes também faz referência à mudança de política condicionada pelo parque subterrâneo, que faz, segundo o vereador, “apelo do transporte individual e privado em detrimento do transporte público”, criando “expectativas muito diferentes até hoje presentes na política de mobilidade”.

Quantos aos riscos previstos para a cidade, Correia Fernandes entende que esta é uma “intervenção muito profunda” e alerta para uma possível abertura de uma “caixa de pandora muito difícil de fechar”. Rui Sá partilha da opinião do vereador, entendendo que a construção do túnel pode provocar “uma descaracterização do património edificado”.