Entre a inabilidade dos políticos e o desinteresse dos eleitores, a abstenção nas eleições europeias explica-se pela má cobertura dos media e pela incapacidade dos políticos em centrar os assuntos na Europa.

“As eleições europeias não são sobre a Europa”, diz o politólogo Carlos Jalali. “E os dados confirmam-no.” O professor da Universidade de Aveiro esteve esta segunda-feira no curso de Ciências da Comunicação da U. Porto, para a conferência “Campanhas partidárias e a cobertura mediática das Europeias de 2009”, onde reflectiu sobre a relação entre os mundos da política e da comunicação social, tendo como ponto de partida o acto eleitoral de 7 de Junho.

Segundo Carlos Jalali, são “os próprios partidos que fazem com que as eleições europeias sejam eleições nacionais de segunda ordem”. “As eleições europeias têm menos cobertura mediática e a que tem está mais centrada nos temas nacionais.”

“Algumas eleições são mais importantes do que outras. Comparando ao futebol, é melhor ganhar a Liga dos Campeões do que a Taça da Liga”, exemplifica Carlos Jalali.

Para o professor catedrático, a falta de interesse dos portugueses nas últimas eleições europeias deveu-se também à proximidade temporal entre estas e as legislativas.

O método

O tema debatido nesta conferência representa um capítulo do livro de Carlos Jalali, que será terminado na próxima semana. Para fundamentar os argumentos, Carlos Jalali analisou os espaços de antena dedicados a cada partido antes das eleições europeias.

O autor concluiu que quase todos os partidos encaram as eleições europeias como eleições nacionais. Uma das excepções foi a actuação do PS.

“Nos tempos de antena, o PS foi explícito. Não agia como um partido que já está no poder”, refere Jalali. Ao utilizar o mote “Temos de tirar a Direita do poder!” referia-se, unicamente, ao universo europeu. “E os eleitores pensavam: ‘Mas o PS já não está no poder?’ O PS excluiu qualquer forma de política nacional.”